A covid acabou? Podemos respirar aliviados?

A Covid acabou? Infelizmente ainda não. Está realmente bem mais controlada em função da vacinação, mas nesse momento está em visível crescimento acelerado e, portanto, devemos continuar atentos e vacinando quem falta.

Hospital usa ventilação não invasiva na recuperação de pacientes com Covid-19 - Foto Governo do Piauí

A Covid acabou? Infelizmente ainda não.

Apesar de muitos dizerem que com os índices atuais as mortes por  Covid se equiparam (ou são menores) às de outras causas como Septicemia, Infarto, Pneumonia  ou AVC. E como estão esses Índices atuais da Covid? (Os números serão arredondados para facilitar).

A realidade das mortes pela Covid no Brasil

Nesses últimos 7 dias, o número de mortes foi de 1520. Muito ou pouco? Média diária de 217. Precisamos comparar com algum momento pra trás para ver como estão evoluindo e verificamos que, no mês de maio, foram  3.160 mortes e em junho 4.800 (mais 52%). Pior ainda se compararmos a primeira semana de junho com a ultima, teremos 672 X 1520!!! Crescimento de 126%!! Alguém acha pouco?

Um erro comum que acontece é aquele que diz que os casos estão aumentando, mas as mortes não! O pessoal da imprensa já devia ter aprendido. As mortes ocorrem, na média, depois de duas semanas do caso diagnosticado. Então para calcular a letalidade (percentual de mortes em relação a casos) temos que pegar os casos de uma semana e calcular com as mortes de duas semanas pra frente, ou vice versa.

E como estão os números de casos? Duas semanas atrás, o número médio de casos diários era de 36.500, o que provocou a média diária de 217 mortes dessas semanas já citadas. E os casos dessa semana? estão em 56.000 diariamente, bem acima dos de duas semanas atrás. Consequência óbvia: daqui a duas semanas o número de mortes será bem maior que o  dessa semana.

Vamos calcular esse índice de letalidade? 217 dividido por 36.500 = 0,6%. Fazendo essa conta para as últimas semanas os números são muito próximos.

Segue o drama dos óbitos causados pelo Coronavírus – Foto Orlando Brito

Mas, e esse índice no auge da pandemia? Tivemos índices acima de 4 %, com 4% sendo um número bem comum. Na pior semana, que foi a primeira semana de abril de 2021, tivemos média de 3.000 mortes por dia, correspondendo a mais de 85.000 casos, com um índice de letalidade de 3,5%.

O que isso significa? Significa que, se não fossem as vacinas, o índice de letalidade estaria entre 3% e 4% e o número de mortes nessa semana teria sido 6 vezes maior = 9.000 mortes, ou 1300 por dia!

Em outras palavras, se nesse mês morreram 4.800 pessoas,  sem a vacina, teriam sido 30.000! E nesse ano, em vez de 50.000 teriam sido 6 vezes isso, ou seja, 300.000 mortes, muito próximo dos 325.000 mortos no primeiro semestre do ano passado, quando a vacina estava apenas começando.

Então, novamente, VIVA a Vacina!

Não temos informações precisas sobre o estado desses que morreram. Já tinham tomado a vacina? Uma, duas, três, quatro ou nenhuma dose? Essa informação seria super relevante!

A vacina no Brasil – Foto Carlos Magno

Mas se os números divulgados falam que mais de 20% da população não está com a vacinação completa, então parece que essas contas estão compatíveis e aqueles que estão morrendo (desnecessariamente) são principalmente os não imunizados ou com outros riscos.

E agora? podemos pensar que a morte de quase 5.000 pessoas por mês é um número razoável? aceitável? normal? comum? Simplesmente porque se equiparam a outras doenças? NAO!! o que precisamos é acompanhar os números das outras doenças como aprendemos e acostumamos a acompanhar os números da Covid.

Vamos ver alguns números de mortes/mês das outras causas (período 15/05 a 15/06): Pneumonia 19.000; Septicemia15.000;  AVC 10.000; Infarto 9.800. Isso é razoável?

Precisamos aproveitar todo o aprendizado trazido pela Covid e acompanhar nos sites do governo os índices de todas essas doenças, com metas claras de redução!

Desenvolvimento sustentável

A ONU elaborou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs)  para 2030, sendo o de número 3 o referente à saúde. Vamos ver o que diz?

Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades

Com destaque para metas que falam em acabar com mortes evitáveis, epidemias e doenças transmissíveis, doenças não transmissíveis e atingir cobertura universal de saúde com acesso a medicamentos e vacinas.

Deu pra perceber? Precisamos medir! Precisamos acompanhar! Quantas mortes acontecem por dia de crianças com menos de 5 anos? E os doentes de doenças previsíveis e evitáveis por vacinas e os que não foram tratados no devido tempo?

A Covid tem muito a nos ensinar e uma lição é a de acompanhar diariamente os indicadores (não apenas de saúde) e tomar as providências devidas. Não podemos nos conformar com índices “comuns”, “normais”  “aceitáveis” de milhares de mortes evitáveis!

Hospitalis lotados com pacientes infectados pela Covid

Vamos aproveitar o TELE-TUDO provocado pela pandemia e tirar boas lições e exemplos? Acompanhar diariamente nos sites do governo (Serpro, Dataprev e áreas técnicas da Saúde tem todas as condições) os indicadores de doenças, mortes, vacinas, sintomas, internações?

Assim as medidas podem ser tomadas tempestivamente e nós e a imprensa podemos acompanhar e não nos conformamos com índices “normais” de mortes, doenças, internações, ou até mesmo de inflação ou desemprego ou acidentes ou.. ou…!

E repetindo a primeira frase do artigo: A Covid acabou? Infelizmente ainda não.

Está realmente bem mais controlada em função da vacinação, mas nesse momento está em visível crescimento acelerado e, portanto, devemos continuar atentos e vacinando quem falta.

(*) Paulo Milet é consultor em gestão, Inovação e EaD,  Presidente do Conselho de Educação da ACRJ, formado em Matemática pela UnB, com pós em Administração Pública  pela FGV e CEO da ESCHOLA.COM.

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