A 3ª Alternativa

O Brasil precisa ser governado por alguém com ideias inovadoras e capaz de conviver e entender a nova geopolítica, a globalização, a automação, a robotização e as novas modalidades de trabalho. Não pode ficar entre dois candidatos ultrapassados.

Promessa de candidato só compromete quem ouve, escreveu alguém cujo nome não me recordo. Penso, porém, que a frase carregada de ironia tem algum fundo de verdade. Ouvi palestras proferidas na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), pelos candidatos à presidência da República, Ciro Gomes, Luiz Felipe d’Avila e Luiz Inácio Lula da Silva. Pela TV Bandeirantes acompanhei a entrevista de Simone Tebet, no programa Canal Livre. Jair Bolsonaro desistiu de comparecer ao encontro programado para o dia 11.

Luiz Felipe d’Avila – Foto Reprodução/Arquivo Pessoal

É traço comum entre candidatos de oposição descrever o país da forma e sob o ângulo que lhes interessa. Ciro Gomes foi explosivo; Luiz Felipe d’Ávila acadêmico; Simone Tebet objetiva; Lula, como sempre, ilusionista.

A menos de dois meses das eleições, segundo as pesquisas, as probabilidades de chegar ao segundo turno se concentram em Jair Bolsonaro e no ex-presidente Lula. O programa do presidente, para o segundo mandato, deve refletir o desempenho ao longo do primeiro. Creio ser inútil ignorar fatos registrados desde 1º de janeiro de 2019. S. Exa. teve a infelicidade de enfrentar a pandemia da covid-19, que já deixou 681 mil mortos e algo em torno de 34 milhões de infectados. Conflitos de competência entre a Presidência da República e governos estaduais e prefeitos municipais, a insistência em torno da cloroquina, as mudanças de ministros da Saúde, a Comissão Parlamentar de Inquérito, geraram desgastes difíceis de superar.

Auxílio Brasil – Foto Reprodução/ Internet

Não bastasse a guerra da Rússia com a Ucrânia temos inflação, elevação da taxa de juros, orçamento secreto, persistente desemprego, aumento dos preços, violência, 33 milhões de pessoas com fome (tragédia que se tenta amenizar com o Auxílio Emergencial). Medidas positivas são enfraquecidas por deficiência de comunicação, conflitos com a imprensa, sistemático ataque às urnas eletrônicas, conduta incompatível com a liturgia do cargo.

Lula – Foto Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta ao cenário como taumaturgo salvador. Às centrais sindicais prometeu revogar a reforma trabalhista e reativar o mercado de trabalho, com melhores salários e geração de milhões de empregos. Assegurou que resolverá o problema da desindustrialização. As análises aos industriais reunidos na Fiesp foram, todavia, mal alinhavadas e as medidas propostas pecavam por demagógica falta de seriedade. A indústria automobilística e de autopeças das décadas de 60, 70, 80, a que Lula fez referência, geravam dezenas de milhares de empregos produzindo veículos obsoletos, caros, de má qualidade, vendidos no mercado interno sob a proteção de muralhas alfandegárias.

Nas últimas décadas o mundo tem passado por dramáticas mudanças. O século 21 não é mero prolongamento do século 20. Houve profunda ruptura provocada por fenômenos que começam a se manifestar na década de 1980 e ganham velocidade a cada dia que passa.  O governo brasileiro exige alguém contemporâneo do futuro. Com ideias inovadoras. Capaz de conviver com a nova geopolítica, a globalização, a automação, a robotização, de entender a inteligência 5G, as novas modalidades de trabalho, a necessidade de reconstruir a legislação trabalhista e de promover reformas políticas e tributárias.

O desenvolvimento encontra empecilhos na extrema judicialização das relações de trabalho, na insegurança jurídica, no calote dos precatórios, nas crises políticas, no péssimo relacionamento do Poder Executivo com o Poder Judiciário, na corrupção turbinada pelo orçamento secreto, na debilidade do micro e pequeno empresário. O Brasil é uma espécie de Passat dos anos 70, incapaz de competir em qualidade, tecnologia, desempenho, com veículos do primeiro mundo.

Jair Bolsonaro – Foto Orlando Brito

Não nos podem obrigar a escolher entre dois candidatos ultrapassados. Jair Bolsonaro corre perigo de perder eleição que se encontrava ganha, para alguém que, até hoje, foi incapaz de esclarecer, de maneira clara e convincente, as razões que o levaram às barras da Justiça Criminal, a ser condenado e a ir para à prisão.

A 3ª alternativa existe. Basta procurá-la. Simone Tebet reúne experiências adquiridas no Poder Executivo com o traquejo acumulado no exercício de cargos no Senado. Ciro Gomes tem currículo invejável, Luiz Felipe d’Avila é o acadêmico que ensaia dar os primeiros passos na política.

Além de Bolsonaro e Lula, temos, portanto, uma candidata e dois candidatos. No que me concerne, a escolha está feita: apoio Simone Tebet.

– Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

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