Em nome do trabalho temos o seu dia internacional. Não foi por conta simplesmente daquele primeiro de maio de 1886, em Chicago. Um dia trágico a mais desde sempre na luta social por reconhecimentos de subjetividade. Um dia entre tantos outros na longa batalha dos mais vulneráveis diante dos donos do poder.
O desejo de vida e o direito à condições de trabalho dignas confluem em toda a história dos seres humanos, dos trabalhadores em geral, não se reduzindo às conquistas graduais de direitos sociais imediatos. O sonho libertário-emancipatório é também um alimento, para o futuro. Ele coloca a urgência de ultrapassagem para outro grau de sociabilidade, no mediato ou talvez, utópico.
É que não é de hoje que se dão aspragmatis por inscrição normativa nas leis públicas de acordo ao grau organizativo de operários e camponeses em seus lugares de assalariamento. Em fábricas ou no campo, em minas e na construção civil, erguendo estradas e pontes, hospitais e usinas nucleares. Lá se encontram esses homens desde antes o seu mundo industrial até este que parece abandoná-los – e ao seu mínimo ético, na labuta por sobrevivência com vida no que se possa chamar verdadeiramente cimo sociedade.
Muita coisa mudou, para melhor e pra pior, com a diferenciação seletiva em certas áreas tecnológicas e de serviços. Colarinhos azuis agora se deparam no chão de fábrica com colarinhos brancos, racionalizando a organização de espaços e sobretudo, o tempo numa divisão do trabalho social cada vez mais segmentada. Injustamente e de forma inverificável se responsabiliza a “classe média” como a frende vilã da luta de classes. Uma confusão em vários níveis, analíticos, sociais, políticos. Não faltam coaches e muita psicóloga positiva… para estorvar esse quadro crítico no qual a angústia e a insegurança instigam à saídas “fáceis”.
São milhões de seres humanos remetidos, pós-pandemia, para casa, na proclamada condição de “colaborador”, ou de quase um “patrão de si mesmo”.
Trabalhadores enfrentam essa complexidade das cisões fora e dentro do mundo do trabalho, testemunhando um tanto perplexos esse processo social na qual os bazares da desindustrialização/reindustrialização arrefecem e renascem na disputa do parto de uma nova ordem mundial.
Nessa reconfiguração global do Capital e de seus mercados os movimentos sindicais tentam desesperadamente recuperar energias, compreendendo e organizando os trabalhadores em condições adversas e assimétricas nos lugares ou postos ocupacionais e no novo tempo acumulativo nos quais as variadas frações se esbarram, digladiam-se, e vão se curvando, ainda, ao canibalismo financeiro.
Pois bem, no quadro amplo e inóspito de fragmentação e estilhaçamento hoje escancarados – a Ucrânia é uma ponta do iceberg, recolocam-se os trabalhadores diante de um duplo desafio:
a) O de resistir contra a dilapidação de seus direitos fundamentais em geral, vale dizer, contrapondo-se à tendência política a despotencializá-los e a excluí-los do manto constitucional;
b) O de ultrapassagem das reivindicações “por menos desigualdades” para compreensões/ ações direcionadas à conquista da igualdade. Um terreno a não ser abandonado, o da Utopia. Lutar pela preservação e efetividades de direitos diz respeito à legítima dimensão, de todo moralmente inafastável, da reparação de danos, ou das bandeiras e ações diretas contra as desigualdades. Outra coisa exige uma certa transcendência face ao pragmatismo da “legalização da classe trabalhadora”
(Cf Edelman) – que toda positivação de subjetividades implica como parte co-constituinte da organização social, historicamente plantada nas relações de produção (e reprodução) bem ou mal vigentes. Que este primeiro de maio possa ensejar uma profunda reflexão dando conta de duas realidades importantes, referentes a dois tipos de visões e atitude: a de batalhar por reparar danos sem abdicar da guerra por igualdade social. O pragmatismo.