“O Quinto Movimento”, de Aldo Rebelo, prega um pacto nacional

O autor aposta no promissor futuro do Brasil, desde que "um grande pacto nacional entre políticos de diferentes partidos e em defesa da Democracia" seja constituído

Aldo Rebelo, ex-ministro e ex-deputado, mostra otimismo com o futuro do Brasil - Foto: Orlando Brito

A retomada do crescimento do Brasil passa pela sua reindustrialização e reconfiguração da produção de bens e serviços nos novos padrões tecnológicos da economia 4.0. É um processo de desenvolvimento produtivo capaz de gerar empregos de qualidade, bem remunerados, o que contribuiria para reduzir a desigualdade social entre ricos e pobres. A volta do desenvolvimento também exige a reorientação do sistema financeiro a fim de direcionar mais recursos à produção e menos para financiar o déficit fiscal das contas públicas.

A adoção destas premissas são apenas alguns dos aspectos do livro do ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, o “O Quinto Movimento”, em defesa de um grande pacto nacional entre políticos de diferentes partidos e em defesa da Democracia, da retomada do desenvolvimento econômico, sem os quais só se agravam as condições fiscais dos governos e aumenta a miséria da população desempregada. O livro, editado pelo jornalista Elmar Bones, da Editora Já, de Porto Alegre, estará nas bancas nos próximos dias.

O crescimento econômico nestas bases é a única condição para um processo consistente de distribuição de renda, e, acima de tudo, para garantir equilíbrio fiscal, pois o governo depende do aumento de arrecadação para manter o funcionamento da máquina administrativa e as políticas de investimento na educação, saúde e outras áreas sociais.

“O diagnóstico é incontornável: perdemos força industrial porque perdemos competitividade e perdemos competitividade porque perdemos capacidade de inovar, ou seja, estamos perdendo a corrida tecnológica”, diz Aldo Rebelo.

Fernando Henrique Cardoso liderou o Plano Real, que debelou a inflação – Foto: Orlando Brito

De fato, nas últimas décadas a economia passa por aquilo que os economistas classificam de voo de galinha por não se sustentar de forma permanente. Nas décadas passadas acreditava-se que a inflação era a principal causa pelo baixo crescimento e má distribuição de renda.

Com o Plano Real, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a inflação foi controlada e foram feitos ajustes nas contas públicas, mas a economia não cresceu. FHC e nenhum outro governo posterior conseguiu implantar um plano de desenvolvimento econômico e os investimentos em ciência e tecnologia tiraram a competitividade das exportações de valor agregado, aqueles que incorporam mão de obra qualificada. Os ensaios de crescimento posteriores foram de empregos abaixo de 1,5 salário mínimo. Para piorar, houve aumento dos gastos públicos e endividamento.

Rebelo, que foi também ministro da Ciência e Tecnologia, dos Esportes, presidente da Câmara dos Deputados, é um político de esquerda muito bem estruturado intelectualmente pelo seus conhecimentos da filosofia clássica, dialética, literatura e, principalmente, da história de formação do Brasil no Império, na República e de inúmeras revoltas populares nos séculos passados, assim como do conflito do Brasil com o Paraguai. O olhar do autor sobre os fatos narrados se sustenta no conhecimento e sua experiência de vida de quem deixou uma pequena cidade no interior de Alagoas para se dedicar aos estudos.

Sua inquietação por entender as causas das mazelas sociais o levou a se aprofundar nas raízes da história do Brasil e seus problemas atuais. Esse interesse pelo conhecimento lhe deu à presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) e abriu o caminho à política nacional, onde ocupou elevados cargos da República.

Em um texto muito bem escrito, Rebelo nos brinda com informações que fizeram parte de sua pesquisa sobre diversos momentos de crise na história do país, onde a saída encontrada sempre foram pactos de alianças envolvendo todos os segmentos da sociedade. A recuperação do crescimento é um dos pontos centrais do livro, que só ocorrera com a unidade entre o capital, o setor produtivo e trabalhadores em torno desta nova economia. É um processo que deve ser feito com respeito à democracia e à presença de um governo forte, com o vigor da legitimidade conferida pela defesa da soberania nacional.

A inovação está cada vez mais subordinada a investimentos crescentes em pesquisa, e só o Estado se dispõe a empreender e correr os riscos quando se trata de apoiar linhas de pesquisa e apostas tecnológicas de resultados incertos. Em inovação não há outro caminho que não o das tentativas sucessivas baseadas em uma rede de pesquisadores capacitados, de equipamentos e laboratórios de última geração, em geral financiados pelo Estado.

Brasil, fronteira agrícola e celeiro do mundo – Foto: Wenderson Araújo

Para Rebelo, o Brasil é a mais promissora fronteira agropecuária do planeta. A ONU espera que o país responda por 40% da oferta futura de alimentos para a população mundial. O Brasil conta ainda com 40% das terras agricultáveis disponíveis no mundo, com disponibilidade de água, minerais, reservas florestais, energias limpas.

O aproveitamento dessas riquezas neste novo mundo 4.0 deve ocorrer com uma rede de pesquisa formada por institutos e universidades. “Temos uma sofisticada estrutura de ciência e pesquisa, temos institutos e universidades de bom nível e defeitos passíveis de correção, como a necessidade de renovação dos quadros de pesquisadores e a aproximação da ciência e da pesquisa produzidas pelo Estado com as demandas do setor produtivo via as encomendas promotoras de inovação, voltadas para o desenvolvimento“, diz Aldo Rebelo.

Pelo menos educação, ciência e desenvolvimento econômico são assuntos que unem o Brasil de diferentes classes sociais e formação ideológicas.

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