O Exército não pode virar mais um dos joguetes eleitorais de Bolsonaro

O general Paulo Sérgio falou grosso contra as declarações do ministro Luís Barroso e não deu sequer um pio quando foi escalado por Bolsonaro como eventual tutor das eleições brasileiras. Nem na ditadura militar houve regras semelhantes.

General Paulo Sérgio e Jair Bolsonaro - Foto Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro

O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual ministro da Defesa, subiu nas tamancas quando o ministro do STF Luís Roberto Barroso disse que as Forças Armadas estavam sendo usadas por Jair Bolsonaro para “atacar” o processo eleitoral brasileiro. Falou grosso, disse que o ministro Barroso, por “ilação ou insinuação” foi irresponsável por não apresentar provas de que isso está ocorrendo.

O próprio Bolsonaro desmentiu o general Paulo Sérgio ao dizer, na farra palaciana de desagravo ao condenado pelo STF Daniel Silveira, que as eleições só serão confiáveis se a apuração for submetida antes ao crivo das Forças Armadas. Nem na ditadura militar houve regras semelhantes.

Foto Nelson Jr./ ASICS/ TSE

O Tribunal Superior Eleitoral, que constitucionalmente arbitra o jogo, abriu o VAR das urnas eletrônicas para entidades da sociedade civil, inclusive as corporações de quem interage com computação, variados órgãos públicos, o Congresso Nacional, o Tribunal de Contas da União e as Forças Armadas. Querer pinçar nesse emaranhado um árbitro específico, escolhido por um dos times, é tentativa de fraude, de melar o jogo.

Mas Bolsonaro não jogou isso no ar com a expectativa de dar certo. Quis apenas alimentar seus seguidores nas redes sociais sedentos de teorias conspiratórias. Faz isso o tempo todo nas mais variadas frentes. Seu método é fingir que chuta o pau da barraca, agrada seus devotos, se não colar, escala parceiros para reduzir os estragos.

Ministro Luís Roberto Barroso – Foto Abdias Pinheiro/SECOM/TSE.

O mesmo script foi reproduzido nos últimos dias. Em um embalo em que se achou vitorioso nos últimos embates com o STF, esticou a corda e defendeu tornar as tais Forças Armadas em última instância da Justiça eleitoral, um absurdo com prazo de validade.

Nessa quinta-feira (28), o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, foi o primeiro a reagir. “As instituições e a sociedade podem ter convicção da normalidade do processo eleitoral. A Justiça Eleitoral é eficiente e as urnas eletrônicas confiáveis. Ainda assim, o TSE está empenhado em dar toda transparência ao processo desde agora, inclusive com a participação do Senado”, escreveu Pacheco, em sua conta  no Twitter.

Presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira – Foto Alan Santos/PR

Na sequência, o presidente da Câmara, Arthur Lira, parceiro de carteirinha de Bolsonaro, também fez questão de desembarcar da maluquice presidencial. “O processo eleitoral brasileiro é uma referência. Pensar diferente é colocar em dúvida a legitimidade de todos nós, eleitos, em todas as esferas. Vamos seguir –  sem tensionamentos – para as eleições livres e transparentes”. Um cascudo que soa como combinado.

E é esse o problema. Nesse bate, rebate, tudo parece como ação entre amigos. Inclusive as manifestações militares. O general Paulo Sérgio falou grosso contra as declarações do ministro Luís Barroso e não deu sequer um pio quando foi escalado por Bolsonaro como eventual tutor das eleições brasileiras. Puro delírio.

A conferir.

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