Eleito presidente em 2002, com torcida não explícita de Fernando Henrique Cardoso, Lula surfou em todos os rapapés de uma transição que pareceu um conto de fadas. A confraternização entre petistas e tucanos na posse no Palácio do Planalto retratou a euforia nacional. Foi emocionante para todos os democratas que lá estiveram.
Esse golaço, proporcionado por FHC, recebeu um troco completamente fora de tom quando Lula declarou ter recebido uma “herança maldita”. Dispensou aí um caminho natural para avançar nas conquistas sociais e democráticas na bela trilha aberta pela Constituição Cidadã promulgada por Ulysses Guimarães. Foi o terceiro erro com a boa herança de Ulysses – o primeiro foi negar a Constituição, o segundo foi desprezar o apoio no segundo turno em que perdeu a eleição presidencial de 1989 para Fernando Collor.
Lula sempre se declarou como uma metamorfose. O Lula que se elegeu no segundo turno dessa maluca corrida presidencial parece ter juntado as experiências de vitórias e derrotas, em um momento dramático do país, em uma aposta na democracia. De alguma forma pode reencarnar o papel histórico de Tancredo Neves.
A escolha de Geraldo Alckmin como seu vice já indicou uma nova guinada. Ao indicá-lo como coordenador da equipe de transição, deu um passo à frente que Alckmin vem desempenhando à vontade. A indicação de Simone Tebet como coordenadora da área social e a escalação de André Lara Resende e Pérsio Arida, pais do Plano Real, para a equipe de transição na área econômica mostram que a proposta de um governo de frente ampla pode se concretizar.
Nessa quarta-feira (9) em Brasília Lula começa a bater o martelo sobre as opções nesse tabuleiro.
A conferir.