Jair Bolsonaro segue nas cordas. Se anima com o delírio de conselheiros malucos para que aproveite as manifestações nas portas de quartéis e o bloqueio em algumas rodovias e lidere uma revolta contra o resultados das urnas que elegeram Lula. Se desanima quando ouve que, se fizer essa opção pela ilegalidade, pavimenta o caminho pra ele e seu clã irem para a cadeia.
Bolsonaro quer tirar as batatas do fogo sem luvas e sem queimar a mão. Simplesmente não consegue. Não dá pra virar o jogo com manifesto de oficiais de pijama, com as trupes na porta dos quartéis e uma turma fechando estradas na entressafra que não prejudica seus próprios negócios. É tão bizarro como o comportamento de seus filhos. Eduardo Bolsonaro, o 03, foi curtir a Copa do Mundo no Catar. Como pegou mal, inventou uma desculpa esfarrapada, que não colou nem entre os bolsonaristas.
Carlos Bolsonaro, o 02, postou a seguinte pérola no Twitter: “Estive com meu pai nesses últimos dois dias. Inclusive, dormimos no mesmo quarto, ou melhor, não dormimos. E digo que sei interpretar grande parte do seu comportamento. Obrigação de filho e amigo. Estarei sempre aqui”. Michelle Bolsonaro à parte, eles teriam passado duas noites insones fazendo o quê?.
No começo da noite dessa quarta-feira (30), Jair Bolsonaro mandou suspender o pagamento das emendas do orçamento secreto como represália à previsível debandada do Centrão para os braços de Lula. Mandou dizer que a ordem do Palácio do Planalto é não pagar mais nada neste ano. Em vez de prejudicar, estimulou a debandada da sua base parlamentar para Lula. Nessa canetada quitou todas as dívidas de parlamentares com seu governo. Quis dar um troco em Arthur Lira e outros líderes do Centrão e facilitou a vida do novo governo.
As teorias conspiratórias despencam como dominó. O tal manifesto com muitas assinaturas de oficiais da reserva da Marinha e da Aeronáutica, bem menos do Exército, propondo uma virada de mesa dos comandantes militares foi outro tiro que errou o alvo. A informação de que José Múcio Monteiro, ex-presidente do Tribunal de Contas da União, será o ministro da Defesa de Lula foi bem recebida pelos chefes militares e publicamente elogiada pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
Bolsonaro tem até vontade de peitar a legalidade. Mas o medo das consequências parece maior. Como ensinou o Conselheiro Acácio, personagem de Primo Basílio, obra prima de Eça de Queiroz, “as consequências vêm sempre depois”.
A conferir.