A estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) de queda de 9,1% do Produto Interno do Bruto (PIB) do Brasil em 2020 é preocupante, mas os impactos da covid-19 no modelo de negócios das empresas com seus fornecedores e clientes podem ser muito mais graves.
É que a recuperação da economia será feita em novas bases produtivas onde alguns negócios vão desaparecer e poderão surgir outros com novo perfil, bem diferentes dos que fizeram parte do PIB do Brasil antes do vírus. O novo normal, que depende ainda de medidas de controle da epidemia e ameaça de um nova onda da covid-19, deve ocorrer em um ambiente com custos mais elevados do que os atuais a todo o setor produtivo.
As empresas públicas e privadas terão, de um lado, aumento de custos de produção e comercialização de seus produtos em função das medidas que estão adotando para mitigar os efeitos do coronavírus. Ao mesmo tempo, com redução do poder de compra das pessoas, as empresas estão tendo perda de faturamento. Há ainda, por outro lado, custos financeiros maiores pelo aumento de prazos de pagamentos concedidos aos clientes.
A consequência do enfraquecimento das empresas ocorrerá sobre emprego, renda, consumo e arrecadação de impostos para municípios, estados e União. O jeito que o governo encontrou para evitar uma queda ainda maior do PIB foi fazer dívida com emissão no mercado de papéis do Tesouro Nacional.
Um estudo feito pela PricewaterhouseCoopers (PwC) com 989 presidentes dos principais grupos empresariais de 23 países, incluindo o Brasil, é de deixar muita gente assustada ao constatar que suas empresas devem ter uma redução de 25% de suas receitas, mesmo depois de voltar à atividade.
Um dos reflexos para o setor público é uma perda constante de arrecadação de impostos enquanto existir a ameaça do vírus, e a economia não voltar a operar em novos pilares. No último mês de maio, a Receita Federal teve uma queda de 32% na sua arrecadação, em parte por ter concedido um adiamento de pagamento dos tributos as empresas.
A realidade é que a maioria das empresas pesquisadas não tinha planos eficientes de gestão de crise e foram pegas de surpresa. Agora estão tendo que adotar medidas emergenciais para se ajustar à nova realidade procurando preservar a saúde da força de trabalho e de clientes, consumidores de seus produtos.
Os espaços de seus escritórios terão que ser ajustados para um número menor de pessoas, sem falar em todas as providências de higienização. O tempo de deslocamento de um colaborador de sua casa até se instalar no escritório deverá aumentar em mais de 50%. Os funcionários que forem liberados para trabalhar em casa terão que ser submetidos a sistemas de avaliação de produtividade. Isso tudo é custo.
A pesquisa com estes qualificados agentes econômicos das principais empresas do Brasil e do mundo aponta que 58% deles temem os riscos de uma segunda onda de infecção. Para 71% deles, apesar do jargão de que crise é oportunidade, não acreditam que haja novas oportunidades de negócios, uma vez que não conseguem vislumbrar novas fontes de receitas para seus negócios.
As empresas terão que enfrentar o desafio de logística e encontrar fornecedores de matérias primas e componentes mais próximos às suas fábricas. Ao mesmo tempo terão que arcar com custos de formação de estoques destas matérias primas, sem falar na logística de entrega de seus produtos aos clientes que cada dia mais evitam frequentar estabelecimentos comerciais.