Nos universos públicos e privados é impressionante como tantos grandes escândalos começaram com pequenos golpes. Por exemplo, o Mensalinho de Severino Cavalcanti, cobrado de concessionárias de lanchonetes e restaurantes da Câmara dos Deputados, mesmo antes de virar notícia, foi o ovo da serpente do Mensalão e do Petrolão, os dois grandes escândalos das gestões petistas.
Severino chegou à presidência da Câmara, numa surpreendente vitória sobre o petista Luiz Eduardo Greenhalg, apoiado por Lula, e ganhou um cacife muito maior do que seu joguinho de poder com os colegas na Câmara. Virou a ponta de lança de grandes jogadas. Essa turma que hoje lidera o Centrão soprou no seu ouvido e ele pediu a Lula a diretoria da Petrobras que fura poço. Não levou. Mas emplacou na estratégica diretoria de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa, pivô do escândalo da Lava Jato.
Severino mal curtiu esse estrelato. O mensalinho o desbancou. Mas a semente que ajudou a plantar, talvez sem nem entender sua dimensão, germinou. A exemplo do mensalinho, no mesmo baixo clero que Severino fez carreira, a farra na Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e câmaras municipais pais afora, a tal rachadinha. O truque em todos eles foi aumentar o número de assessores e abocanhar parte de seus salários.
O clã Bolsonaro não é uma exceção, mas o exemplo mais visível dessa falcatrua. Esse expediente escuso enriqueceu sua família e agregados. Toda e qualquer investigação os põem na berlinda. Eles não têm como explicar, por exemplo, a expansão do patrimônio do senador Flávio Bolsonaro, o 01. Na maioria, são ganhos antes de assumirem o poder em Brasília.
Chegaram ao poder sem uma defesa plausível. O blá blá blá da campanha durou até o medo de que os malfeitos da família pudessem ser punidos. Quando o então ministro Sérgio Moro negou proteção ao clã, alegando que era uma investigação em outra esfera de poder, o disco virou em Brasília. Num passe de mágica o estadual virou federal. Produziu-se mais uma alquimia nas magias das cortes brasilienses.
Com o beneplácito dos ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Tófolli, Moro foi escanteado e o Centrão com todas suas ambições e pendências virou o grande parceiro do jogo político palaciano. Simples assim. Flávio Bolsonaro e irmãos saíram da linha de tiro. Sempre tem um preço a pagar.
Todo mundo sabe do apetite do voracidade dos políticos do Centrão por cargos e verbas. Pipocam aqui e ali vídeos e denúncias de que essa turma, aliada de Bolsonaro, cobra e recebe propina por liberação de granas federais Brasil afora. São recentes gravações de políticos do PL, partido de Bolsonaro, chefiado por Valdemar Costa Neto, personagem da maioria dos escândalos nacionais nas últimas décadas.
A corrupção política no Brasil não é novidade, é histórica. O que às vezes surpreende é a incorporação de novos atores. Desde o escândalo dos sanguessugas, em que foi desvendado um grande esquema de desvio de verbas de compra de ambulâncias superfaturadas para o bolso de parlamentares, os políticos evangélicos entraram na berlinda. Pagaram o preço na eleição seguinte, com a bancada que encolheu.
Mudaram de estratégia e voltaram a crescer com um discurso desvinculado da roubalheira. Como têm uma grande força eleitoral, seguiram como noivas cobiçadas de postulantes competitivos ao Palácio do Planalto. Como todas as outras crenças na sociedade, têm visões distintas. Carimbar politicamente evangélicos não tem o menor sentido.
Mas, o fato de ser pastor evangélico não pode também ser salvo conduto em qualquer tipo de crime. Na ponta do iceberg desse novo escândalo no Ministério da Educação, os dois pastores flagrados em plena picaretagem, foram elogiados e defendidos por Flávio Bolsonaro. Chama atenção ter saído em defesa deles antes mesmo do ministro Milton Ribeiro. Deu a impressão de ter mais carne debaixo desse angu.
A conferir.