Bolsonaro será reeleito, tal como foram os outros

Eleitor comemora vitória de Bolsonaro em 2018- Foto Orlando Brito

Mais  uma sucessão presidencial.  Começaram  as pesquisas de opinião pública, e mesmo ainda distante  do pleito vários  setores já estão ficando empolgados. Cada qual acha que seu candidato sairá vencedor. A curiosidade do público  é saber se o atual Presidente da República tem condições de se reeleger.  Bolsonaro já emplacou dois resultados positivos a seu favor, nos últimos levantamentos. Ou seja, se a eleição fosse agora, ele venceria por uma boa diferença e permaneceria no cargo. Se isso é bom ou não é, cabe à população avaliar  ao longo dos próximos anos.

No Brasil, para um Presidente da República reeleger-se não precisaria  criar  essa expectativa  toda da  população. Se o presidente no final do mandato tiver feito um trabalho político e administrativo relativamente  bom e honesto, ou pelo menos razoável, terá possibilidade de disputar. O eleitorado brasileiro não cobra muito dos postulantes  ao  cargo. A simpatia pessoal, a demagogia, o dinheiro, a publicidade, as nomeações durante o mandato, o apoio de setores empresariais, os arranjos partidários e outras  artimanhas são forças para os candidatos. Mais ainda para quem está no cargo.

Por que tanta expectativa e receios quanto à reeleição, seja Bolsonaro  ou outro qualquer? Afinal, todos  os últimos presidentes do Brasil foram reeleitos . Fernando Henrique dobrou, Lula repetiu a dose e até dona Dilma, a mais fraquinha em termos de popularidade, foi igualmente reeleita. O Brasil perdeu nesse período uma boa oportunidade  de renovar  seu panorama político e suas lideranças.  Cada eleito conseguiu repetir a façanha  e ficar oito anos no cargo, menos a dona Dilma, vítima de impeachment. O sucessor de todos, Bolsonaro, ganhou com facilidade  apresentando-se como contrário à politica  tradicional e explorador das  redes sociais.

Jair Bolsonaro em frente à Catedral de Brasília do dia em que respondeu grosseiramente um jornalista- Repodução YouTube/UOL

O atual presidente é grosseiro, explosivo, destemperado e de  pouca estatura e interesse cultural. Foi deputado por vários mandatos  mas não tem muito conhecimento do processo legislativo. Debochado,  critica quem quiser, adora falar palavrão e acha que jornalistas  são moleques. Os jornalistas não acham  nada dele. Só fazem  escrever sobre ele e o que ele diz e faz. Bolsonaro se elegeu sem dinheiro e com muita internet. Para alguns  o modo de ser do presidente é um escândalo. Para ele é natural, engraçado, e bate onde quer porque só assim acha que pode mudar o Brasil. Populismo, tomar café na padaria, passear de moto, tais expedientes desagradam a muitos mas outros tantos  adoram, e acham Bolsonaro uma pessoa alegre, descontraída.  Por vezes  é raivoso.

A candidatura ao mandato seguinte peca na questão dos princípios democráticos, pois  o candidato à reeleição sai para a disputa com uma grande vantagem sobre os demais concorrentes. Um mandato  cumprido, nomeações, obras – eventualmente – o exercício do poder  com vantagens  em benefício próprio e de  seu grupo político  o torna forte.  Se perder será taxado de incompetente. E é possível que tenha sido mesmo. Bolsonaro é do tipo decidido e já teve uma eleição vitoriosa. Se voltar  não será por ser realmente o melhor,  mas porque passou quatro anos  aplainando o terreno para continuar  no cargo. Como os outros reeleitos fizeram.

Excesso de continuísmo  impede a renovação da vida política brasileira. Acontece  também ao nível estadual onde praticamente  todos os  governadores  se reelegem para o segundo mandato. A seguir ainda ajudam um coleguinha de partido e se eleger para o mesmo cargo. E depois eles  se elegem para o Senado.

Quem não se elege senador depois de ser governador  duas vezes  seguidas?  E  de lá, se quiser  não sai mais. Não se trata só de méritos. Algum deve haver. Mas sim de encarar  a política não como uma arte e um trabalho a favor do povo e da melhoria  das condições sociais e econômicas do Estado. Para muitos políticos, o objetivo é ficar no poder e mamar até morrer. O povo, os pobres, a miséria, que  se danem.

O Brasil praticamente não tem renovação política, o que é lamentável.  A suposta renovação é o filho do deputado federal,  o neto de um senador, dois sobrinhos do vereador, a esposa de alguns governadores, e dois filhos de um deputado estadual. Pronto, mudou tudo, mas não alterou  nada.  E se um candidato à Câmara Federal,  filho de deputado não conseguir se eleger ficará meio  desacreditado. Nem com a ajuda do papai conseguiu. Há deputados federais e estaduais, senadores  também, que às vezes ficam três décadas  repetindo mandatos.

Não o fazem somente porque o salário e as vantagens sejam  ótimas. Muitos que chegam lá já são ricos.  E por isso chegaram lá.  O objetivo maior de todos é manter o status quo, o establishment, as  vantagens do cargo, o apartamento funcional, o carro oficial, a semana de três dias, o plano de saúde e algumas  viagens  internacionais. E ser tido e chamado  de Excelência, título  que quase nenhum  merece.

A reeleição, por  uma única vez, para a Presidência da República e os governos estaduais é admissível. Parlamentares que passam boa parte da vida curtindo e se beneficiando do Congresso, com várias reeleições, são dispensáveis.  Uma reeleição apenas. Bolsonaro, que poderá ser Presidente da República novamente, foi deputado federal  sete vezes. Ou seja, por 28 anos. E seus rebentos  também já foram para o Congresso.

— José Fonseca Filho é jornalista

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