A luta do BC (Banco Central), sob o comando de Roberto Campos Neto, para trazer a inflação à meta de 3,25%, em 2023, diante de cenários econômicos interno e externo duvidosos, será longa. Os efeitos deste esforço de combate à inflação podem frustrar as expectativas do novo presidente da República, que, tudo indica, deve ser Luiz Inácio Lula da Silva.
Hoje, a inflação acumulada de 12 meses de 8,73% deve cair para um patamar de 6% mais por conta da redução de tributos sobre os combustíveis do que pelo efeito contracionista dos agregados monetários, como a taxa de juros de 13,75%. Juros neste patamar desestimulam empresários a investir, assalariados a consumir, industriais a produzir e o crescimento da economia.
Mais inflação ou mais emprego?
Para economistas, que seguem a linha de pensamento de Milton Friedman, a inflação é um fenômeno essencialmente monetário: a taxa de inflação é proporcional à variação do estoque de moeda na economia. Assim, defendem que a inflação deve ser eliminada por intermédio da redução da taxa de crescimento do estoque monetário. A consequência deste aperto monetário é um aumento do desemprego.
O dilema enfrentado pelos dirigentes dos Bancos Centrais é que quanto maior a contração monetária visando uma redução drástica da inflação, maior será o desemprego corrente. Caso optem em combater à inflação com menores custos sociais, terão que reduzir a inflação gradualmente.
Esta última foi a escolha feita pelo presidente do BC de Roberto Campos Neto e do FED (BC dos EUA), de Jerome Powell. Aqui, diante dos primeiros sinais de inflação, o BC optou por um combate à inflação lento e gradual diante de um cenário de juros nominais de 2% em junho de 2021, inferiores à inflação. Os aumentos dos juros que se seguiram tiveram pouco impacto sobre os preços que continuaram subindo. É verdade que os efeitos contracionistas dos aumentos das taxas têm uma defasagem de meses. O resultado desta estratégia menos drástica da política monetária foi uma redução do desemprego que andava na casa dos 12,6% para 9,1%, o que indica a preocupação com o impacto social deste tipo de medida.
Lá como aqui
O FED, de Jerome Powell, está adotando a mesma linha estratégica de uma politica monetária mais suave para trazer a inflação de 9,1% nos Estados Unidos, com juros elevados na ordem de 3% a 3,25. Na última semana, o mercado esperava um aumento das taxas de juros de 1%. Acabou sendo de 0,75% com as expectativas de novos aumentos iguais, devendo atingir 4% com claro sinal de esfriamento do mercado de trabalho e redução do consumo norte-americanos. Mesmo com juros reais abaixo da inflação, a expectativa do mercado é que inflação caia e a economia dos EUA entre em um processo recessivo.
Aqui no Brasil, mesmo com juros de 13,75%, ainda não há certeza entre os membros do Comitê de Politica Monetária do BC (Copom) que a batalha para trazer a inflação à meta tenha êxito. Um recado foi dado de que podem ocorrer novos aumentos de juros caso haja novos impactos de preços, especialmente de tarifas administradas e combustíveis. É que os efeitos benéficos da redução dos preços da gasolina, gás e óleo diesel sobre a inflação vão desaparecer com o tempo. Além disso, há sinais claros de indexação generalizada da economia.
O combate da inflação com os atuais instrumentos monetários do BC será uma tarefa árdua, podendo comprometer os dois primeiros anos do novo governo, que, pelas pesquisas, seria de Luiz Inácio Lula da Silva. Certamente Roberto Campos Neto usará dos mesmos argumentos para o novo ministro da economia de Lula, muitas vezes utilizados por Paulo Guedes: o desiquilíbrio fiscal da União compromete a eficácia da política monetária do BC. É que o endividamento público com a injeção de recursos do Tesouro Nacional na economia diminui a tração da política monetária, além de provocar temores nos investidores de papéis públicos.