Outro dia, eu e meu parceiro Mario Vitor Santos, com quem tenho o prazer de dividir um programa na TV247 às terças e quintas às 10 hs, fomos importunados, no chat do YouTube, por um personagem que se autodenominava “Mete bala nele, mito!”. Expliquei a Mete bala que, como qualquer outro, ele era bem vindo em nosso programa, inclusive para criticar, mas pedi que, por favor, não metesse bala em ninguém, porque isso era crime. E seguimos em frente.
Lembro o episódio enquanto me dou conta do quanto temos sido tolerantes com esses brasileiros que a toda hora falam em meter bala em alguém. Banalizamos e não levamos devidamente a sério esse tipo de ameaça – grave até num simples pseudônimo.
No último sábado, um deles meteu bala e matou o guarda municipal Marcelo Arruda, que, em Foz do Iguaçu (PR), tesoureiro do PT local, comemorava seu aniversário numa festa que tinha Lula e o PT como tema. “Aqui é Bolsonaro!”, berrou o assassino, um agente penitenciário que chegou ao local num carrão de luxo.
Foi a primeira morte de uma campanha que se anuncia a mais violenta das últimas décadas, como vaticinam todos, com estranha naturalidade. Tem tudo para ser, com mais episódios trágicos como o de sábado. Se ninguém fizer nada, será mesmo.
Evitar a violência, e novas mortes, vai depender sobretudo das autoridades encarregadas da segurança e dos candidatos e seus partidos, mas também da mídia, da sociedade, dos eleitores. Antes de tudo, é preciso tratar o assunto com a gravidade que tem, chamar as coisas por seus devidos nomes, parar de escamotear e, de forma desonesta, atribuir episódios de violência e até assassinatos à suposta “polarização” política que teria tomado conta do país.
É desonesto afirmar que a morte de Marcelo Arruda é resultado do exacerbamento dos ânimos provocado pela “polarização”, como se Lula e Bolsonaro, e seus seguidores e militantes, se equivalessem. Não. A morte de Marcelo Arruda é consequência de um movimento chamado bolsonarismo, que armou as pessoas, levou-as a adotar discursos golpistas e jogou o país no mais profundo obscurantismo jamais visto na era pós-redemocratização.
O “lulismo” não está incitando ninguém a meter bala em ninguém, como se fosse a coisa mais normal do mundo – diferentemente do que quis fazer crer o presidente da República, quando comentou o assunto e jogou a violência no colo “da esquerda”. Vamos deixar de rodeios, de falsa isenção e dizer a verdade: o responsável por essa barbárie é Bolsonaro.