Para relembrar Doutor Ulysses Guimarães, ex-presidente da Câmara dos Deputados – A história de uma foto

Estamos no dia 8 de outubro de 1992, uma quinta-feira. O deputado Ulysses da Silveira Guimarães havia completado 76 anos fazia dois dias. Jovem fotógrafo da revista Veja, eu cobria os lances da política diariamente e um dos principais personagens da época era ele. Nem sei quantas vezes o retratei em sua incansável batalha em defesa dos direitos dos cidadãos e da democracia. Não somente quando foi o líder da oposição contra o regime militar, mas quando era também presidente da Câmara; da Constituinte, substituindo ocasionalmente José Sarney no Palácio do Planalto e, sobretudo, nos palanques do Diretas-Já.

Pois bem, eu saía do Congresso e, parado na porta da Chapelaria da Câmara, aguardava o automóvel que me levaria de volta à redação da revista. Era fim de tarde, por volta das seis. De repente, sinto uma mão sobre meu ombro. Era Ulysses Guimarães. Para minha surpresa, ele estava sozinho, coisa rara. Para nova surpresa, disse-me:

— Caro Brito, você já me fotografou em várias situações, menos sobre a rampa do Congresso.

Quatro ou cinco minutos depois, estávamos cumprindo seu desejo de uma pose com o Legislativo ao fundo. Quando voltávamos para a Chapelaria, não sei por qual razão, Uysses parou e fez esse gesto aí da foto. Filme novo na câmara fiz uma meia dúzia de fotogramas. Achei estranho o seu aceno de “adeus”. Mas ao mesmo tempo, fiquei feliz porque duas horas antes, o fotografara chegando aos elevadores da Chapelaria para mais uma das sessões do Parlamento.

Quatro dias depois, em 12 de outubro, uma segunda-feira, a triste notícia. Ulysses e seu amigo Severo Gomes, acompanhados das esposas, Mora e Maria Henriqueta, havia falecido na queda do helicóptero que os transportava no voo de retorno de Angra dos Reis para São Paulo. A aeronave desapareceu nas águas do Atlântico. Seu corpo jamais foi encontrado.

Foi a última foto que fiz do “Senhor Diretas”.

O tempo passou e, há dois anos, chego ao Salão Verde da Câmara e me deparo com a foto que fiz do Doutor Ulysses Guimarães transformada por um desconhecido artista plástico em escultura posta bem ao lado da entrada do plenário da Casa, que hoje o homenageia com seu nome.

Lugar adequado para aquele senhor que entrou para História como defensor da transparência na administração pública, da lisura dos políticos, do respeito às pessoas e da liberdade de imprensa.

Orlando Brito

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Um dos mais conhecidos e premiados fotógrafos do país, Orlando Brito nasceu em Minas e chegou a Brasília ainda menino, no início de sua construção, em 1956. Fez viagens por mais de 60 países, em coberturas presidenciais, papais e esportivas, como Copas do Mundo e Olimpíadas. Tem seis livros publicados e quatro outros no prelo. Recebeu vários prêmios, entre eles o Press Photo do Museu Van Gogh. de Amsterdã. Onze vezes Prêmio Abril de Fotografia. Bolsa da Fundação Vitae, de São Paulo, em 1991. Várias exposições individuais e obras no acervo de diversos museus do mundo.