13 de dezembro de 1968 – Há 53 anos, o famigerado AI-5

Soldado monta guarda em frente ao Congresso, fechado pelo AI-5 em 1968 -Foto Orlando Brito

A sombria noite de sexta-feira 13 de dezembro de 1968 é inesquecível. O marechal Costa e Silva, então presidente da República, promulgava o AI-5. Talvez o decreto que mais feriu a democracia brasileira.

O Ato Institucional Número Cinco, que fechou o Congresso Nacional, cassou o mandato de parlamentares, permitiu a tortura, suspendeu o habeas-corpus, estabeleceu a censura à imprensa, ao teatro e ao cinema. E também restringiu várias liberdades, por exemplo, a reunião de pessoas fossem quaisquer os motivos.

A justificativa do segundo presidente do regime militar para tão nefando decreto era garantir à Revolução de 1964 “encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país”.

Com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal postos em recesso, Costa e Silva passou a governar com Decretos-Lei.

Eu era um jovem fotógrafo e cobria para o jornal O Globo os assuntos da política. Senti que a notícia estava na Presidência da República, mas seu efeito se mostraria no Congresso. Atravessei o Eixo Monumental, a avenida que separa o Palácio da Câmara e Senado. No Planalto não havia nenhuma foto a ser feita, a não ser a de um contínuo aborrecido distribuindo aos repórteres as cópias do ato presidencial.

Parlamentares e jornalistas ouvem pelo rádio a decretação do AI-5 em uma sala da Câmara. – Foto Orlando Brito
Decretado o AI-5, os deputados deixam o Congresso, fechado pelos militares – Foto Orlando Brito

Eu estava certo. Numa salinha do térreo abarrotada de senhores atônitos, consegui ainda fotografar alguns deputados ao pé do radinho de pilhas ouvindo a leitura da intervenção na Constituição lida em cadeia nacional pelo então ministro da Justiça, Gama e Silva. Entre eles, estavam os presidentes da Câmara, da Comissão de Justiça e o líder do governo, Zezinho Bonifácio, Djalma Marinho e Geraldo Freyre, além de jornalistas e funcionários.

Logo em seguida, todos tiveram de abandonar o edifício do Congresso. Câmara e Senado Federal só foram reabertos dez meses depois para referendar, em eleição indireta, a escolha do novo presidente da República, o general Garrastazú Médici, no lugar de Costa e Silva, acometido por uma embolia cerebral que lhe tirou do poder e da vida.

O nefasto AI-5 só foi revogado dez anos depois, em 1978, pelo general Ernesto Geisel, com o processo de redemocratização do Brasil.

Passadas cinco décadas, hora e outra ouvimos personagens do atual governo ameaçarem a democracia com edição de ato idêntico àquele que mudou a vida do Brasil. Uma deles é o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do capitão que agora preside a República.

Orlando Brito

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