Na Praça do Comércio, Centro de Lisboa, perto do Rio Tejo, passageiros em fila tomam um bonde, lá chamado de Elétrico.
Sabemos que toda imagem tem algo a dizer, uma mensagem a comunicar, um sentido de informação. Se você prestar atenção, reparar nos detalhes, verá que é certa essa premissa. Como se diz, você pode “ler” fotografias.
Ensinam os dicionários da língua portuguesa: o vocábulo “Oxímoro” é a figura de pensamento em que se exprime um paradoxo. É a associação de duas imagens que se repelem, se contradizem e têm sentidos incompatíveis. Por exemplo: silêncio ensurdecedor.
Oxímoro é um paradoxo, o oposto de pleonasmo. Exemplo de pleonasmo é verdade verdadeira, chove chuva, sonho sonhado… Os dicionários do nosso idioma, aliás, dão exemplo objetivo, citando o grande poeta lusitano Luís de Camões, autor desses famosos versos, quase todos baseados em oxímoros:
“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”.
Também os poetas brasileiros são autores de paradoxos. De Castro Alves: — Dor, tu és um prazer. E de Renato Russo: — Já estou cheio de me sentir vazio.
Pois bem, durante uma ida a Portugal, deparei-me com esta cena que bem representa a ideia de contradição. Em Lisboa, o uso dos bondes é uma tradição. E também solução que as autoridades empregam para desafogar o tráfego porque os vagões coletivos para trinta passageiros tiram das ruas um grande número de automóveis.
Mas repare bem na foto o anúncio afixado na frente do trem. É um verdadeiro paradoxo. Propaga a venda de carros, veículos da francesa Renault. Ou seja, é um autêntico oximoro.
Orlando Brito