A esperada live de Bolsonaro sobre fraude nas eleições resultou em mais do mesmo

A Secretaria de Comunicação do Planalto enviou mensagem aos jornalistas credenciados na Presidência da República alertando para a importância da live dessa quinta-feira, 29 de julho, no Alvorada. Garantia prioridade para a entrada de emissoras de transmissão ao vivo e, também, a repórteres de texto. Fato raro, muito raro, aliás, já que a imprensa tem sido flagrantemente impedida no acesso tanto aos palácios quanto a Jair Bolsonaro e outras autoridades do primeiro-escalão do governo. Mas ressaltava a relevância da fala de Sua Excelência. O aviso da SeCom, porém, destacava que os jornalistas estariam presentes, mas não poderiam fazer perguntas.

Criou-se um clima de expectativas para o anúnico de uma novidade bombástica não se sabia precisamente sobre qual assunto.

Bolsonaristas pedem voto impresso na manifestação de sábado – Foto Orlando Brito

Mas, como previa-se, assunto a ser apresentado por Bolsonaro era a reivindicação que sempre faz — ele e seus fãs seguidamente em manifestações —  sobre seu desejo de voto auditável ou impresso no lugar do moderno sistema de apuração das próximas eleições.

Bolsonaro ao lado do senhor Eduardo, coronel da reserva, na live dessa quinta-feira

Às 19 horas, teve início a tal apresentação de Jair Bolsonaro, levada ao ar em suas redes sociais e também pela tevê estatal a EBC. Ao lado de um senhor chamado Eduardo, passou a apresentar uma lista de indícios de fraude nas urnas eletrônicas. Na verdade, nada de novo, episódios já conhecidos e classificados como não verdadeiros. Fez vários ataques ao presidente do TSE, ministro Luíz Roberto Barroso, e seguiu sua apresentação ilustrada por gráficos, auxiliado por um técnico de informática que simulava como frágil e declarava como devassável o sistema de votação digital do Brasil.

A segunda metade do evento Jair Bolsonaro dedicou a elogios às ações de seu governo e a enaltecer o brilhantismo de sua equipe ministerial. Reclamou dos ataques à lisura de sua família. Reafirmou que é favor da próxima eleição. Que o Exército está presente nas horas horas graves do Brasil. Que não existe ameaça da volta do AI-5, o contrário do que já dissera seu filho deputado Eduardo. Que Ciro Nogueira, novo ministro da Casa Civil, é mais indicado do que o general Ramos para a articulação política. Falou mal da imprensa. Algumas ameaças veladas. Que quer democracia. Mais do mesmo que sempre diz.

Jair Bolsonaro com os filhos Flávio, Eduardo e Carlos – Foto Reprodução Instagram

Depois de 2 horas e 50 minutos, Jair Bolsonaro encerrava a transmissão de sua live, com a qual prometia, há mais de um ano, comprovar fraudes no sistema eletrônico de votação do Brasil. O mesmo sistema que, diga-se, o elegeu para a Presidência da República em 2018 e, antes, deputado por sete mandatos, assim como os filhos Eduardo, Flávio e Carlos para a Câmara Federal, Senado e a vereador no Rio.

Ao fim do evento, os jornalistas, como estava estabelecido, não puderam fazer perguntas. Por exemplo, sobre as afirmações que Jair Bolsonaro fez sobre em seu governo não haver casos de corrupção. E também sobre a real saída do ministro Ricardo Salles, da pasta do Meio Ambiente, acusado de exportação ilegal de madeira da Amazônia para os Estados Unidos. Nem das investigações da CPI sobre propina no processo de compra de vacinas durante a pandemia da Covid.

O próprio Jair Bolsonaro admitiu não ter provas concretas das suspeiras que faz sobre o sistema digital das eleições do Brasil. Críticas não faltaram às suas palavas. O presidente do PSB, Bruno Arapujo, divulgou nota na qual diz: — O presidente Bolsonaro prometeu apresentar provas de que as eleições brasileiras foram fraudadas por meio das urnas eletrônicas. No lugar disso, ofereceu um festival de argumentos constrangedores e patéticos. O máximo que conseguiu é deixar a sociedade perplexa com o nível das bizarrices apresentadas.

Mais do mesmo.

 

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