
A diferença mínima de intenções de voto entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva varia de 3 p.p. (Datafolha) a 5 p.p. (Ipespe). As coletas de amostras das duas pesquisas de intenção de voto ocorreram num período bastante próximo – 22 a 23/03 e 21 a 23/03, respectivamente.
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Este cálculo, em pontos percentuais (p.p.), considera, em primeiro lugar, os levantamentos espontâneos (quando o eleitor precisa citar um nome sem ler ou ouvir uma lista). Em seguida, foram consideradas as margens de erro calculadas em cada empresa – 2 p.p. e 3,2 p.p. (aqui arredondada para 3,0 p.p.), respectivamente.

No Datafolha, Lula tem 30% de citações espontâneas, enquanto Bolsonaro alcançou 23%. Considerada a margem de erro, a diferença mínima pode ser de 3 p.p.; a máxima, 11 p.p. No Ipespe, Lula tem 36% e Bolsonaro, 25%. Considerada a margem de erro, a diferença mínima pode ser de 5 p.p.; a máxima, 17 p.p. O Datafolha indicou pequena queda de Lula e alta de Bolsonaro em relação à pesquisa anterior. No Ipespe, há estabilidade no quadro evolutivo.
A pesquisa Quaest, realizada na primeira quinzena de março, indica quadro similar. Lula com 27%, Bolsonaro com 19%. Diferença mínima: 4 p.p.; máxima: 12 p.p. A opção por Lula indica estabilidade, enquanto Bolsonaro apresenta viés de alta.
Rejeição impeditiva
A manifestação espontânea, antes do início da propaganda eleitoral oficial (16/08), é o melhor indicador do humor dos eleitores. Naquela data, o cidadão perceberá que o compromisso com o voto é inevitável (02/10 e 30/10) e ele terá que decidir se irá votar e qual será sua escolha. Além disto, nesta data, a 47 dias do pleito, os nomes postos tendem a ser definitivos. Lembre-se, ainda, que mesmo as pesquisas de boca de urna ou realizadas às vésperas da eleição (com amostras maiores) já surpreenderam.

Até o momento, consideradas as semelhanças entre as diversas pesquisas e a repetição nestes levantamentos dos nomes que polarizam o cenário pré-eleitoral, a conclusão é de que os dois principais líderes da política brasiliana disputarão a preferência do eleitor no segundo turno – ou, eventualmente, no primeiro turno.
Se o quadro espontâneo deixa os dois principais candidatos em condições equivalentes para o embate, outro dado levantado pelas pesquisas continua posicionando Bolsonaro em desvantagem. As duas amostras recentes apontam rejeição proibitiva do atual mandatário: 55% (Datafolha) e 63% (Ipespe). Teoricamente, estes percentuais tornam impeditiva a eleição de Bolsonaro no 2º turno, onde o candidato vitorioso necessita de 50% + 1 dos votos válidos. Lula, por seu turno, tem 37% (Datafolha) e 42% (Ipespe) de rejeição. Na Quaest, Lula é rejeitado por 42% e Bolsonaro, por 63%.
Que vença o menos pior?
Uma sondagem nas eleições pós-redemocratização (1985) sugere cautela. Mudanças bruscas do humor dos eleitores foram registradas em mais de uma sucessão majoritária. Em que pesem as análises lastreadas num viés racional, parte importante dos eleitores (1) não é fiel a nomes, (2) age sob efeito manada e (3) tende a ser passional. Este contingente, que não tem lado fixo, decide os pleitos polarizados.

O que pesa mais na decisão do voto? A carestia ou a corrupção? O desemprego ou a pauta de costumes? A arma no coldre ou a vacina no braço? O diploma universitário ou a água encanada? O menos desonesto ou o mais fazedor? Qual o governo traz melhores lembranças? Qual o candidato representa melhores perspectivas para o biênio 2023-2026? Não tente responder estas perguntas. As respostas podem ser sedimentadas em bases reais, mas a formulação mental que leva o eleitor à urna eletrônica resvala para o emocional, sem contar suas vicissitudes – difíceis de aferir com profundidade numa entrevista de menos de meia hora.
Além disto, alguns eleitores são mais eleitores do que outros e influenciam para além do seu próprio sufrágio – o líder comunitário, o clérigo da reunião dominical, a matriarca da família, o colega influente, a professora doutrinadora. Sem contar fotos e fatos, reais ou fictícios, que sobrevirão até o dia da eleição. Exemplos: (1) associar uma decisão que aumente a autonomia do Banco Central à fome; (2) insinuar que uma tentativa de homicídio partiu do adversário.
Outro dado que deve ser levado em conta a esta altura é o de eleitores sem candidato – valor que difere bastante entre as pesquisas. Pelo Datafolha, são 40% dos entrevistados (não sabe + em branco + nulo + nenhum). No Ipespe, este percentual baixa para 29% (não sabe + não respondeu + nenhum + branco + nulo). Na Quaest, 51% (indecisos + nbn [sic] ). Embora sejam números expressivos, não surpreendem. Nos últimos pleitos, a soma de votos nulos + brancos + abstenções girou em torno de 30% do eleitorado registrado. Foram 30,87% em 2018.
Diante deste quadro, as eleições presidenciais de 2022 irão se assemelhar a um referendo. Quase a totalidade absoluta do eleitorado conhece Bolsonaro e Lula, e sabe como cada um governa / governou. O que ele tiver esquecido será relembrado durante a campanha eleitoral – pela mídia, pelos candidatos e pelas redes antissociais. Em última instância, o eleitor irá dizer qual dos dois governos foi o melhor – ou o menos pior. Claro, a não ser que um moderado (que segue desconhecido) surja e embaralhe o jogo.

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+ A pesquisa Datafolha (BR-08967/2022) foi realizada presencialmente entre os dias 22 e 23 de março de 2.022 com 2.556 pessoas. A margem de erro é de 2,0 p.p. Custo: R$ 473.780,00.
+ A pesquisa XP / Ipespe (BR-04222/2022) foi realizada por telefone entre os dias 21 e 23 de março de 2.022 com 1.000 pessoas. A margem de erro é de 3,2 p.p. Custo: R$ 42.000,00.
+ A pesquisa Genial / Quaest (BR-06693/2022) foi realizada presencialmente entre os dias 10 e 13 de março de 2.022 com 2.000 pessoas. A margem de erro é de 2,0 p.p. Custo: R$ 268.742,48.
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