O economista Adriano Pires atua no mercado há décadas e, aparentemente, tem um perfil técnico para presidir a Petrobras a partir de 13 de abril, conforme indicação do presidente Jair Bolsonaro. Nada mais político, porém, do que sua indicação, que marca a ascensão do Centrão ao comando da maior estatal do país, depois de meses de tentativas. Sua nomeação tem as digitais dos principais comandantes desse grupo no governo, com quem tem relações próximas – o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara, Arthur Lira.
Nogueira, Lira e outros políticos do grupo há tempos vinham torpedeando o general Silva e Luna à frente da Petrobras, mas não exatamente pela falta de jogo de cintura político no quesito aumento de combustíveis – a razão pela qual Bolsonaro convenceu-se a fazer a substituição. A presença do general lá representava, isso sim, uma barreira às ambições e nomeações do Central na companhia.
A cabeça de Luna foi facilmente cortada por Bolsonaro no momento em que viu, nas pesquisas, que a questão dos combustíveis – e da inflação – começa a ter efeitos desastrosos sobre sua campanha de reeleição. Aí ficou fácil para o Centrão emplacar Pires. De forma inteligente, os caciques do grupo resolveram não sentar um dos seus – um político – na cadeira de presidente da Petrobras, o que o sujeitaria a reações negativas do mercado e vigilância implacável da mídia.
Mas Adriano Pires assume em consonância total com o Centrão. Isso quer dizer que ele, que até já criticou o repasse da paridade internacional de preços ao consumidor, vai mudar a política de preços da estatal? O amigo do mercado não chegará a tanto. Mas é um bom comunicador, como dizem seus padrinhos, e participará da formulação de outras soluções defendidas pela ala política do governo para não impactar tanto a campanha de Bolsonaro.
A saber, as propostas de subsídio do Tesouro para evitar o aumento do diesel e do gás de cozinha, por exemplo, a partir da criação de um fundo de estabilização dos preços co recursos públicos. Se já defendia essas propostas como consultor, agora trabalhará por elas como comandante da Petrobras – o que faz toda a diferença para os políticos, que ainda por cima terão abertos os caminhos das sonhadas indicações para diretorias e cargos na Petrobras.
Para quem vai perguntar se a equipe econômica de Paulo Guedes, até agora contrária a essas medidas, vai aceitar, a resposta é sim. Apesar do nome mercadista, a substituição na Petrobras foi mais um episódio em que Guedes, em viagem pela Europa, perdeu para o Centrão – não foi ouvido nem cheirado.