Quais as propostas dos candidatos para os famintos que ocupam as ruas?

É hora de encarar de verdade a inacreditável desigualdade social no Brasil

O drama do desemprego Deuzimar, ao lado do Ministério da Economia - Foto Orlando Brito

Nos últimos meses o fotografo Orlando Brito, com seu olhar sensível e treinado no jornalismo raiz, tem registrado a realidade das ruas em Brasília. Diariamente centenas de pessoas empunham cartazes nos semáforos, nas ruas, nas calçadas com verdadeiros pedidos de socorro. São pais e mães de família desolados pelo desemprego e pela falta de perspectiva. Crianças passando fome, sem ter onde morar, esfregando na cara das autoridades a miséria do país.

Enquanto isso, os representantes dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – seguem sua rotina de privilégios e mordomias fingindo não enxergar o que se passa nas ruas do país. As discussões nos gabinetes do Congresso, nos tribunais superiores, no Palácio do Planalto e Esplanada dos Ministérios passam longe da realidade de parte dos brasileiros que se amontoam nas ruas tal qual zumbis em busca de dignidade.

Deputados e senadores estão mais preocupados em aprovar polpudas verbas para os partidos e para a campanha eleitoral, em garantir o sigilo das emendas secretas e outras mutretas para beneficiar eles próprios do que discutir alguma proposta que faça a real diferença na vida dessas pessoas.

Sede do Ministério Público, a PGR – Foto Orlando Brito

O Ministério Público, que deveria defender os interesses da população, virou um antro de privilégios, no qual os procuradores estão mais interessados nos penduricalhos que se acumulam fazendo com que os seus já elevados salários ultrapassem ainda mais o teto do funcionalismo público federal.

No Judiciário a situação não é diferente. Juízes e ministros dos tribunais superiores também acumulam benefícios além dos próprios salários. Sem contar o fato de que nos últimos anos parecem estar mais empenhados em salvar da prisão corruptos amigos flagrados com malas abarrotadas de dinheiro, alguns até com notas na cueca.  A justiça e a fome não são pautas prioritárias.

Protesto contra Bolsonaro, Guedes e Arthur Lira – Foto Orlando Brito

E o Executivo, sob a gestão Bolsonaro/Guedes, não dá nem pra falar. São tantas demonstrações de descaso com a população por parte do presidente que se fossem enumeradas uma a uma a lista se estenderia por quilômetros.

A miséria e a fome reais, com tanta gente implorando por comida nas ruas das mais ricas cidades do país, são avaliadas como meras oportunidades eleitorais. Andar na Zona Sul do Rio de Janeiro, no badalado circuito Copacabana-Ipanema-Leblon, é driblar corpos estendidos pelas calçadas. Dormem de dia pra não correrem o risco de morrer à noite. Evidente que tem os craqueiros de sempre, mas são minoria diante da legião de famintos.

À sombra de um arvoredo, no semáforo ao lado do Ministério da Economia e perto do Congresso, Jasmim, Antônio e Ângela – Fotos Orlando Brito

São tantos que as pessoas começam a se acostumar a passar por eles sem vê-los. Eles já são invisíveis para os poderes públicos. Só a polícia presta a atenção neles, para que não incomodem os turistas no verão carioca. Antes se jogavam na frente de bancos e mercados. Agora estão espalhados por toda parte. Foram incorporados à paisagem urbana como um mais estorvo no caminho.

Se o povo da rua precisa comer, e o problema da chamada classe média alta aqui no Rio é não tropeçar em famintos nas ruas, a preocupação dos políticos e da elite do funcionalismo público é tirar mais algum do Orçamento da União. Os políticos querem aproveitar a abulia do governo Bolsonaro e inflar o financiamento eleitoral, ampliar os recursos para suas bases eleitorais, e inflar o pagamento de serviços e obras que atendam apoiadores, o que muitas vezes lhe rendem dim-dim. A briga na alta cúpula do funcionalismo público é por aumento salarial, seja pelo reajuste prometido por Bolsonaro para as chamadas forças de segurança ou pelo desempenho na arrecadação reivindicado pelos auditores da Receita Federal.

São mundos e realidades bem diferentes.

Nos três anos de governo, Bolsonaro demonstrou mais aptidão para aproveitar as benesses do poder do que as responsabilidades. Sua prioridade é andar de jet sky, passear de motocicleta, usufruir de mordomias em praias paradisíaca, bater papo no cercadinho ou arrumar encrenca. É um preguiçoso que finge trabalhar.

Manifestação pelos mortos da Covid- Foto Orlando Brito

Solidariedade e empatia não fazem parte do seu vocabulário. Não demonstrou nenhuma tristeza nem com os mortos pela covid, nem com os desabrigados com as enchentes. Não tem qualquer preocupação com esses brasileiros que perambulam pela rua em busca de alimento, abrigo, trabalho.

O mais triste, no entanto, é que até agora, nenhum dos candidatos falou com seriedade para essa parcela da população. Lula aposta no p0assado e até aqui seus concorrentes não apresentaram uma proposta concreta, factível, sem demagogia, que possa resolver o problema desses eleitores que, embora invisíveis para as autoridades, também são cidadãos e dia 2 de outubro, com fome ou não, vão às urnas votar.

O pedido de socorro em um dos semáforos da Capital – Foto Orlando Brito

É preciso seriedade. Buscar um pacto para resolver os problemas da nação, que não são poucos, sem pensar em picuinhas políticas. Até agora a prioridade dos candidatos tem sido criticar um ao outro, pela imprensa – dependente ou independente – ou pelas redes sociais. Proposta que é bom, nada.

Tomara que no dia 2 de outubro, ao invés de ficar brigando por causa de políticos – seja ele de direita ou de esquerda-, os cidadãos assumam sua responsabilidade, votem com consciência e cobrem das pessoas que elegeram. Afinal, os eleitos são nossos representantes, estão lá para servir à sociedade e não serem servidos por ela.

*Com colaboração de Andrei Meireles

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