Bolsonaro e Trump se comportam como matrioskas invertidas de Putin

A espantosa submissão de quem depende da máquina cibernética russa para ganhar votos em eleições mundo afora

Encontro em Washington: Jair Bolsonaro e Donald Trump -Foto Alan Santos/PR

As lindas bonecas russas de tamanhos variados colocadas umas dentro das outras,  são símbolos universais de fertilidade, amor e amizade. São as matrioskas, inspiradas em criações japonesas, aperfeiçoadas pela arte russa. Como tudo que é bom pode ter um inverso ruim.

Jair Bolsonaro e Vladmir Putin – Foto Alan Santos/PR

Vladimir Putin, treinado na velha KGB, aprendeu a manipular aliados e adversários com a técnica de tirar bonecas em sequência. Há tempos exercita dentro e na periferia da Rússia. Numa versão mais moderna, mais sofisticada e mais perigosa, usa sua vertente tecnológica para influir em jogos democráticos mundo afora. Fez isso no Brexit que separou a Inglaterra da comunidade europeia e na eleição de Donald Trump.

Há 10 dias, Bolsonaro foi a Moscou beijar a mão de Putin, levando a tiracolo Calos Bolsonaro e Tércio Arnaud, a linha de frente do tal gabinete do ódio. Tão injustificada quanto a comitiva da visita é a conduta do presidente da República na volta. Lá fingiu, em uma cascata reproduzida nas redes sociais, que estaria em missão de paz.

Com a invasão da Rússia à Ucrânia simplesmente finge de morto. Vergonhoso. O que mais doeu em Bolsonaro é sua submissão a Putin ter sido atropelada pelo vice-presidente Hamilton Mourão. “Tem que haver uso da força, realmente um apoio à Ucrânia, mais do que está sendo colocado. Esta é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo vai ser a Moldávia, depois os Estados bálticos e assim sucessivamente. Igual a Alemanha hitlerista fez no final dos anos 30”, foi como Mourão até passando bem acima do tom chutou o pau da barraca.

Jair Bolsonaro durante live – Foto Reprodução YouTube

Mais do que seu radicalismo, o mérito da declaração de Mourão foi colocar Bolsonaro no corner. Forçou a sua reação, mesmo a meia bomba, em sua live nessa quinta-feira (24).”Quem fala sobre o assunto é o presidente da República, e chama-se Jair Bolsonaro. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso, está falando algo que não deve, não é de competência dela”.

Vice-presidente Hamilton Mourão – Foto Reprodução RecordNews

Puxar a orelha de Mourão sem tomar uma posição clara sobre a agressão da Rússia à Ucrânia é mais uma fuga covarde de Bolsonaro. Seu grande mentor, o ex-presidente Donald Trump, pelo menos é mais corajoso. “Ontem, eu vi em uma televisão e disse: ‘Isso é genial’. O Putin declara uma grande parte da Ucrânia como independente. Isto é maravilhoso. Ele vai entrar e ser um pacificador. Essa é a maior força de paz. Poderíamos usar isso na nossa fronteira ao sul. Essa é a maior força de paz que eu já vi”, cravou Trump em uma entrevista ao programa Glay Travis & Buck Sexton.

O que Donald Trump deve a Vladimir Putin? As investigações nos Estados Unidos revelaram uma grande ajuda eleitoral no submundo das redes sociais. Devem ter sido  tão relevantes que Trump, mesmo contra a condenação de todos aliados dos Estados Unidos à agressão à Ucrânia, segue grato a Putin.

E o que tem Bolsonaro com isso? Evidente que as redes sociais, manipuladas ou não, foram decisivas em sua eleição. Seguem como sua grande aposta na reeleição, sob o comando ostensivo de Carlos Bolsonaro. Carluxo, o 02, e Tercio Arnaud, seu braço direito no chamado gabinete do ódio no Palácio do Planalto, foram as surpresas na comitiva de Bolsonaro a Moscou.

A presença deles em uma agenda desconhecida na Rússia, com suspeitas de possíveis ataques cibernéticos, acendeu sinais de alertas. O senador Randolfe Rodrigues acionou o STF e o ministro Alexandre de Moraes pediu que o ministério público investigue se tem alguma ligação com as milícias digitais a serviço do bolsonarismo.

Nem precisa entender de política ou de culinária para desconfiar de carne debaixo desse angu.

A conferir.

Deixe seu comentário