Na política, quando o universo resolve conspirar a favor de alguém a campanha se torna fácil, tranquila. A onda de apoios vem como um tsunami varrendo todo país. Foi assim em 2002, na eleição que levou Lula ao Planalto pela primeira vez, e em 2018, quando Bolsonaro foi eleito. O contrário também acontece e aí todos os problemas aparecem de uma só vez às vésperas da eleição.
É mais ou menos o que vem acontecendo na campanha bolsonarista nos últimos dias. Uma sucessão de acontecimentos negativos tem abalado a candidatura presidencial. Neste caso, a dúvida é se o que está acontecendo é fruto do destino ou apenas colheita pelo que foi plantado durante a gestão? Bolsonaro sabe que plantou muitos ventos e a tempestade que se aproxima não será pequena.
A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, semana passada, acusado de usar a pasta para favorecer pastores evangélicos “a pedido do presidente”, foi o primeiro grande golpe na campanha, que já vinha cambaleando nas pesquisas de opinião pública graças ao mau desempenho da economia.
Como se isso já não fosse problema suficiente para o Planalto, o Ministério Público Federal pediu o envio do inquérito envolvendo o ex-ministro ao Supremo por indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do presidente nas investigações.
A consequência de todo esse escândalo, lógico, gerou um pedido de criação de uma CPI no Senado. A oposição quer investigar o tráfico de influência no Ministério, admitido pelo próprio presidente na live de quinta logo após a prisão do ex-ministro, e a interferência indevida de Bolsonaro nas investigações. Cabe ao senador Rodrigo Pacheco a decisão sobre a instalação ou não da Comissão de Inquérito. Até lá, haja Rivotril.
Não existe pesadelo maior para um candidato a um cargo majoritário do que uma CPI funcionando a poucos meses da eleição. Palanque perfeito para a oposição mostrar com todas as cores os malfeitos do governo.
Tudo que Bolsonaro precisava era que algo acontecesse para desviar o foco da CPI. Ele só não contava com um escândalo tão grande envolvendo um dos seus mais fiéis aliados no governo, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. A denúncia de assédio sexual caiu como uma bomba no Planalto.
E, embora Guimarães tenha deixado o cargo, os desdobramentos do caso vão desembocar na campanha eleitoral. Principalmente pela postura do presidente diante das denúncias de assédio sexual. Até agora Bolsonaro não se pronunciou condenando o assédio e repudiando a prática, como deveria fazer. Ao contrário, concedeu ao acusado o benefício de sair a pedido e não demitido. E não determinou a abertura de nenhuma investigação, para apurar os fatos.
Para quem já é malvisto pelo eleitorado feminino, essa postura só reforçou o caráter machista e misógino do presidente em relação às mulheres.
O pior é que, se não estivéssemos a poucos meses da eleição, seria bem provável que ao invés de demitir o presidente da Caixa, Bolsonaro o prestigiasse ainda mais e comentasse o caso com alguma piada de mau gosto, como costuma fazer.
Aliás, Lula também se saiu muito mal nesse episódio. Em entrevista à rádio Educadora de Piracicaba, o ex-presidente disse não ser “procurador ou policial para comentar”. É verdade, mas é candidato a presidente da República e deve se posicionar em situações assim, deixando claro para nós mulheres que esse tipo de comportamento não será tolerado em seu governo, caso seja eleito.
Foi isso que fizeram Ciro Gomes e Simone Tebet logo após a denúncia ser publicada no portal Metrópoles. Condenaram veementemente o fato e lembraram que “assédio é crime” e deve ser tratado como tal. Ambos cobraram a apuração do caso e punição para o culpado. É o mínimo que se espera de alguém que pretende governar o Brasil pelos próximos 4 anos.
Pedro Guimarães é mais um auxiliar ligado ao presidente que deixa o cargo em meio a um escândalo. Agora é esperar pra ver quem será o próximo.