A decisão do governador gaúcho Eduardo Leite de ficar no PSDB, dispensando a candidatura presidencial meio fake que o PSD lhe oferecia, parece ser mesmo, a longo prazo, o melhor para seu futuro político. Mas também é falsa, e frágil, a embalagem com a qual ela está sendo vendida – a conversa de que Leite fica no partido para derrubar João Doria e virar um candidato de união da terceira via com o MDB e o União.
Essa versão pode sustentar por uns poucos dias anúncio de Leite, mas a lógica indica que ele não foi para o partido de Gilberto Kassab porque não viu vantagem em ser um candidato destinado a preencher as necessidades políticas de Kassab no primeiro turno, antes de correr para Lula no segundo. Nessas condições, o governador percebeu que não teria os R$ 50 milhões pedidos para fazer uma campanha de verdade, e nem o empenho do PSD nos estados.
Desse jeito, seria difícil sair do 1% que marcou nas pesquisas recentes, rivalizando com Doria – outra razão importante para a desistência. Se seu nome tivesse emplacado após a movimentação em torno da ida para o PSD, Leite provavelmente tentaria o pulo nesse trapézio sem rede. A pressão dos caciques do PSDB para que ele ficasse, acompanhada de promessas de puxar o tapete de Doria na convenção de agosto, foi, portanto um pretexto providencial.
Leite vai deixar o governo gaúcho aparentemente apostando nessa hipótese. Mas, na verdade, ele já fizera compromissos regionais no RS que não comportam um recuo na promessa de não se candidatar à reeleição.
A aposta na possibilidade desistência de Doria é hoje um lote na lua, assim como a propalada união da terceira via, em junho, em torno do nome que estiver melhor nas pesquisas. Supostamente, na estratégia de caciques do PSDB como Aécio Neves e Eduardo leite, esse nome seria o de Eduardo Leite, que assumiria a cabeça de chapa tendo como vice Simone Tebet (MDB) ou Luciano Bivar (União). Faltou combinar com os russos.
Além do russo Doria, que já deu sinais que vai lutar até o fim, inclusive na Justiça, para manter o resultado nas prévias, tem ainda a russa Tebet, que já deixou claro que retomará a disputa ao Senado no MS para não ser vice de ninguém. O MDB, portanto, muito provavelmente cairá fora. Caso do União, quando perceber que os parceiros estão mais interessados em seu gordo dote, o qual não aceitará dividir em nome de uma candidatura presidencial de menos de 5%.
Diante das dificuldades de seus candidatos nas pesquisas e dentro do próprio PSDB, a união da terceira via em torno de Eduardo Leite tem tudo para ser um conto vigário – que, nesse momento, interessa a ele.