A grande novidade da semana foi um abaixo assinado por algumas centenas (ou milhares) de cientistas e empresários sobre os riscos e perigos da Inteligência Artificial.
A princípio o comunicado soou bastante assustador e repercutiu imediatamente. Afinal, essa tal de Inteligência Artificial (IA) vem pra ajudar ou pra atrapalhar nossa vida?
Vamos tentar fazer uma análise sem aprofundar muito a parte técnica para que todos possam entender e, aí sim, tomar partido (se for necessário).
Primeiro, é bom ficar claro que os Sistemas de IA não foram inventados em novembro de 2022, com o lançamento do ChatGPT, como parece que parte do mundo acredita.
Esses Sistemas vem sendo desenvolvidos há bastante tempo, e a grande diferença é que nós, antes, tínhamos notícias que as grandes empresas (Microsoft, Facebook, Google, IBM, Petrobras, Gen, Motors, NASA, etc) estavam desenvolvendo e usando grandes sistemas em uma tentativa de emular a inteligência humana e ficávamos aqui, de longe, torcendo pra dar certo e ter algum benefício futuro para todos.
O que aconteceu de diferente em novembro, é que a OpenAI, “dona” do ChatGPT, lançou e liberou gratuitamente para todos o uso do produto, de modo que, todos nós passamos a ser usuários de um sistema super interessante, que parecia entender e conversar conosco como se fosse uma pessoa amiga.
Aí veio a explosão! Uma maravilha! Uma porcaria!
As Opiniões se dividiam. Ele sabe tudo! Ele erra e inventa!
Olhando com calma e usando bastante, minha conclusão, compartilhada com muita gente, é que o ChatGPT é um sistema ESPETACULAR! Mas, pelo limite dos dados inseridos (2021), pela maneira como foi construido, e como formula suas frases, ele pode gerar informações falsas (na maior cara de pau). Ele nem percebe que está mentindo e inventando.
Mas quando as perguntas (prompts) vão melhorando e o assunto fica em um contexto, as respostas vão ficando mais elaboradas e precisas.
Com isso as análises foram se aprofundando e deu pra perceber que, nesse ritmo, em breve muitas profissões poderiam desaparecer, algumas novas vão surgir e TODAS irão se modificar. E o modo como trabalhamos, aprendemos, ensinamos, compramos, vendemos e nos divertimos será bem diferente.
Em dois meses o número de usuários chegou a 100 milhões batendo por larga margem o TikTok (9 meses) que era o recordista recente.
Mas não ficaram parados no ChatGPT! Os concorrentes que estavam com seus produtos em testes nos laboratórios começaram a lançar seus produtos (incluindo fotos, vídeos e animações) e uma corrida louca se estabeleceu.
A própria OpenAI fez a integração com o office (Microsoft) e já lançou o GPT-4 com alguns bilhões de informações a mais e corrigindo alguns erros. Além disso, anunciaram nessa semana a possibilidade de conexão com APIs e Plugins de outros sistemas, o que pode realmente ser uma revolução total, integrando a capacidade de análise e resposta elegante de um, com muitos mais dados trabalhados e tratados (inclusive os dados de cada um e/ou das suas próprias empresas e organizações).
Mas vamos voltar agora ao primeiro parágrafo.
Qual é a grande preocupação? Esses 4 meses vão se acelerar mais ainda? Será que o ser humano vai ser colocado para escanteio? Vamos ser superados pela IA? O desemprego vai explodir?
Eu, que vivo no mundo da tecnologia nos últimos 50 anos, e principalmente os últimos 30 com a explosão da Internet, tenho uma visão otimista. O mundo não vai se acabar. Mas não podemos ficar parados.
Kai-Fu-Li no seu excelente livro “2041- Como a Inteligência Artificial vai mudar sua vida nas próximas décadas” (Lembrando que o livro foi escrito em 2022, antes da explosão do ChatGPT), nos dá uma grande dica: Precisamos aplicar os 3 Rs – Reaprender, Recalibrar e Renascer, significando o aprendizado das novas profissões e conhecimentos, ajustar a nossa dedicação ao trabalho, e iniciar uma nova vida convivendo em harmonia com a IA.
Isso é muito similar ao seu outro livro de 2018 onde os 3Rs são ligeiramente diferentes: “Reciclar (o conhecimento das pessoas), Reduzir (a carga de trabalho) e Redistribuir (a renda)”, ao longo dos próximos anos.
Eu, acredito que esses três verbos são aplicáveis, até preventivamente, para surfar na nova onda e não ser engolido por ela.
Se os sistemas de Inteligência Artificial se tornarem tão produtivos que não seja necessário que a humanidade trabalhe no ritmo atual, porque não reduzir? Porque não trabalharmos apenas o suficiente?
Gosto muito de um exemplo de 500 anos atrás (já citei em outro artigo), mais precisamente na Ilha de Utopia descrita em 1516 por Thomas Morus:
” Se todos trabalhassem, a carga horária diminui para todos. Havendo seis horas apenas para trabalhar, esse tempo é suficiente para produzir bens abundantes que bastem para as necessidades e que cheguem não apenas para remediar, mas até sobrem.”
“Nesta ilha dividem-se o dia e a noite em 24h exatas e destinam-se ao trabalho apenas 6 horas com intervalo para refeição e seguida de ceia. As 8 da noite vão para a cama, dando 8 horas de sono. O tempo livre entre o trabalho, as refeições e o sono é ocupado livremente por cada indivíduo, como melhor entender.”
Vamos aprender mais, trabalhar menos e melhor e distribuir as rendas e encargos de um modo mais equilibrado.
E Porque não?
Voltando ao primeiro parágrafo, existe uma grande preocupação, sim, com o uso negativo dessas novas possibilidades. Nesse ponto concordo com o abaixo assinado. Precisamos criar critérios e padrões que nos permitam identificar a origem de textos vídeos e figuras. Algo como uma impressão digital oculta (a ser inventada) e compromisso dos autores das ferramentas de modo que isso seja possível.
Vale destacar que o comunicado tem uma sutileza. Ele não pede a paralização do desenvolvimento e das pesquisas. Ele pede que o volume de “treinamento” (alimentação dos sistemas com dados) seja suspenso por 6 meses enquanto o mundo pensa e tenta criar forma de regular essa novidade.
Veja o texto original: “Portanto, conclamamos todos os laboratórios de IA a suspender imediatamente por, pelo menos, 6 meses, o treinamento de sistemas de IA mais poderosos que o GPT-4. Esta pausa deveria ser pública e verificável, e incluir todos os atores-chave. Se tal pausa não puder ser implementada rapidamente, os governos deveriam vir a campo e instituir uma moratória”.
Além da regulação das redes sociais, com a preocupação de não criar um mundo de censura, com boa vontade e uma dose adicional de inteligência (humana) por parte dos governos, parlamentos, empresas e universidades, será possível definir um plano colaborativo, com um horizonte de, vamos dizer, 8 anos, coincidindo com os Objetivos da ONU para 2030, para que essas e outras medidas, aproveitando a IA na sua totalidade estejam implantadas, e que ações fundamentais quanto a poluição, fome, emprego, renda, educação e saúde também estejam.
Podemos até usar o ChatGPT pra ajudar a preparar o plano e ter um mundo melhor!!
– Paulo Milet é consultor em gestão, Inovação e EaD, Presidente do Conselho de Educação da ACRJ e Diretor da RIOSOFT, formado em Matemática pela UnB, pós-graduado pela FGV e CEO da ESCHOLA.COM