Farinha pouca meu pirão primeiro

Até aqui a gula do PT atropela o discurso de Lula de um governo com a participação efetiva de novos aliados e das minorias sempre relegadas.

Camilo Santana e Lula - Foto Reprodução
A opção de Lula  pelo senador eleito Camilo Santana (CE) para o ministério da Educação tirando do páreo a atual governadora do Ceará, Izolda Cela, tida como favorita para assumir o cargo, revela dois aspectos sobre a incoerência entre o discurso e a prática do PT. O primeiro é a gula histórica do partido por todos e quaisquer espaços de poder desde a sua  origem sindical e em todos os governos que foi hegemônico.
Simone Tebet e Marina Silva – Foto Reprodução

Dessa vez, ensaiou uma prosa diferente. Durante a campanha Lula reafirmou inúmeras vezes que sua candidatura representava uma ampla frente democrática. Mas, na hora da formação do governo, parece que as coisas não são bem assim. O PT tem exigido os ministérios mais importantes e com mais recursos para comandar, enquanto os aliados vão ficando em segundo plano, vide situação da senadora Simone Tebet e da ex-ministra Marina Silva.

Aloizio Mercadante – Foto Ricardo Stuckert/PT

Ambas entraram de cabeça na campanha de Lula, e agora estão sendo fritadas em praça pública sem qualquer cerimônia e gratidão por parte dos petistas. Enquanto se desgastam, Lula finge que não é com ele e segue nomeando gente com muito menos capacidade ou adequação que as duas apenas para agradar o partido. Caso típico da indicação de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES.

O outro aspecto de incoerência entre o discurso e a prática do PT é com relação às minorias. O partido capturou todas as pautas assim caracterizadas, como os movimentos de mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA+ , em sua grande maioria ligados à esquerda, mais especificamente ao PT. Mas na hora da divisão do bolo, as fatias maiores e com mais recheio sempre vão para os “companheiros” mais próximos. Os demais, se não forem filiados ao PT, ficarão apenas com os farelos.

Izolda Cela – Foto Governo do Ceará

Simone, Marina e Izolda são exemplos claros disso. São mulheres preparadas, que fariam um excelente trabalho se nomeadas para postos que almejam, mas pecam por não estarem filiadas ao PT. As narrativas criadas para justificar os vetos são inúmeras e, muitas vezes incongruentes, mas  muitos engolem sem as questionar, inclusive as feministas ligadas ao PT.

Izolda Cela tem todas as credenciais para ser ministra da Educação. Fez uma revolução na educação do Ceará.  Seria uma ótima oportunidade de nacionalizar uma experiência que deu certo em uma unidade da federação, mas, embora ela seja de esquerda e tenha sido aliada do partido por muito tempo, não serve aos interesses dos petistas, que optaram por deixá-la como subordinada a um homem por ser filiado ao PT.
Para um governo que diz defender a igualdade de gênero, seria uma grande oportunidade de unir o útil ao agradável. Uma pena!
Socióloga Nísia Trindade Lima

Outra que vinha sendo queimada por alguns setores petistas é Nízia Trindade, que deve ser confirmada no Ministério da Saúde. Seu trabalho à frente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi questionado dentro do PT, mas Lula desta vez parece não ter dado ouvidos aos companheiros.

As críticas também atingem a deputada Marília Arraes, ex-petista e candidata derrotada ao governo de Pernambuco. Cotada para a Previdência, tem sofrido resistência para assumir o posto.
Claro que Lula ainda tem muitos nomes para anunciar nos próximos dias, afinal, serão 37 ministérios.
Margareth Menezes deve ser a nova ministra da cultura do Brasil – Foto Reprodução/Instagram

Além da cantora Margareth Menezes outras mulheres devem assumir cargos importantes, mas será que os avanços serão o que esperam os movimentos feministas? Lula garante que sim, mas com tantas mulheres sendo queimadas antecipadamente é provável que não.

Ou vão ser escaladas em espaços menos cobiçados pelos companheiros e os aliados políticos em geral.

 

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