É ótimo exportar commodities

A industrialização, principalmente de produtos de alta complexidade, é importantíssima para qualquer país, mas uma coisa não invalida a outra. Os Estados Unidos, por exemplo, continuam sendo o maior exportador mundial de alimentos in natura, e, no entanto, contam com forte indústria de transformação.

Grandes questionamentos ocorrem pela imprensa depreciando a exportação de commodities pelo Brasil por uma suposta falta de agregação de valor nos produtos. O questionamento fustiga a Vale para o minério de ferro, que deveria ser exportado já transformado em placas de aço ou mesmo em automóveis ou outros produtos acabados. Atinge as commodities agrícolas onde exemplos afloram de uma Alemanha ou Itália que dominam o mercado do café sem ter um único pé plantado, e vale para o petróleo onde se demanda que tenhamos refinarias que criem produtos de maior valor para a exportação.

Minério de ferro – Foto Divulgação/Vale

Ao lado de tentar resolver esses nossos clássicos problemas, tentando agregar valor aos produtos, poderíamos assumir que somos bons mesmo em exportação de commodities minerais e agrícolas e que, se temos dificuldades em agregar valor aos produtos na forma industrial, podemos agregar valor às cadeias, através da logística, dos equipamentos e serviços para os processos, da tecnologia agrícola, da indústria naval e das navipeças, da engenharia básica, da construção civil, dos equipamentos e serviços ferroviários, rodoviários, portuários e aeroviários.

Ferrovias – Foto PPI

Ou alguém questiona que a Embrapa agregou valor aos produtos agrícolas do país? Como também ferrovias e portos bem localizados? E todos os drones usados hoje na agricultura?

A nanotecnologia , a biotecnologia, a certificação de produtos e os cuidados com a sustentabilidade caracterizam também agregação de valor.

O ideal é pensar as cadeias produtivas de forma ampla. Não é necessário apenas adicionar valor para frente, processando ou industrializando mais um produto, embora isso seja também altamente desejável para o país, embora quase sempre não com os mesmos produtores.

Agricultura e mineração são setores que já agregam enorme valor. Uma saca de sementes de soja de 60 quilos, por exemplo, produz, em média, 74 sacas de soja. Os cafés especiais multiplicam o valor das sacas. O minério debaixo da terra não vale nada. Ao tirá-lo de lá a agregação de valor é imensa. O mesmo se passa com o petróleo.

Luiz Inácio Lula da Silva – Foto Ricardo Stuckert/PR

Em mandato anterior, Lula pressionou a Vale para produzir aço e agregar valor ao minério. Porém, em determinados setores não vale a pena para o produtor de primários tentar agregar mais valor. Não há interesse da Vale em verticalizar suas atividades e passar a produzir aço. Ela tem de se concentrar nos seus negócios com minério de ferro e pelotas, por exemplo, que já é um produto com mais agregação ou com HBI , aproveitando o insumo de gás natural, se houver preço razoável. Ou com alta tecnologia e produtividade na mineração, que já conta inclusive com enormes veículos autônomos, sem motorista.

Colheita de algodão

Não faz sentido o produtor de algodão, por exemplo, diversificar para atividades de fiação, para a tecelagem ou para a confecção. Estes são ramos que exigem capital, tecnologia e conhecimentos específicos.

A industrialização, principalmente de produtos de alta complexidade, é importantíssima para qualquer país, mas uma coisa não invalida a outra. Os Estados Unidos, por exemplo, continuam sendo o maior exportador mundial de alimentos in natura, e, no entanto, contam com forte indústria de transformação.

As dificuldades de industrialização passam por outros problemas: custo Brasil, ambiente ruim de negócios, juros altos, burocracia, impostos em cascata, proteção desnecessária, baixa produtividade e educação falha, que não forma mão de obra com a capacidade adequada.

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