Devotos de Bolsonaro parecem viver num transe

A obra As Bacantes nos ajuda a refletir sobre como o desvario pode levar a atos insanos

Bolsonaristas na Esplanada dos Ministérios - Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR
Filósofo Eudoro de Sousa

Muitíssimos anos atrás, quando ainda adolescente cursava Letras na UnB, tive o prazer de conhecer o filósofo Eudoro de Sousa. Ele já bem velhinho recebeu alunos da disciplina que estudava textos de teatro em seu apartamento na Colina para discutir a obra As Bacantes, de Euripedes, da qual ele foi tradutor.

Essa obra me marcou para sempre e me veio à mente diante desses atos bárbaros ocorridos em 8 de janeiro de 2023.

Dioniso, ou Baco, era o rei do vinho

Encurtando muito a história, as bacantes eram mulheres ensandecidas por Dioniso, que, enfurecido com o fato de ter sido abandonado pela família mortal que não o reconhecia como filho de Zeus, resolveu se vingar do rei de Tebas, seu primo. O rei Penteu acabou assassinado pela própria mãe, que, em transe, participava dos rituais no meio das mulheres delirantes. Quando Agave, a mãe, caiu em si e percebeu o que havia feito, enlouqueceu de vez.

 

Dioniso, ou Baco, era o rei do vinho, das pulsões, da desmedida.

As Bacantes nos faz refletir sobre como o desvario e a irracionalidade podem nos levar a cometer atos insanos, dos quais podemos nos arrepender tão logo retorne a razão.

Não sei se Baco perderia tempo com pessoas tão desinteressantes e cheias de ideias absurdas como os golpistas que perturbam o país por não aceitarem o resultado das eleições, mas que eles parecem viver num transe, como as bacantes de Euripedes, não dá para negar.

Invadir e depredar prédios públicos, danificar móveis e obras de arte não parecem ser atitudes de pessoas equilibradas que se consideram defensoras da família e da moral e tementes a Deus. Parecem mais atitudes de seres delirantes que perderam o juízo.

Mal comparando, tal qual Dioniso, ou Baco, que por seu poder divino, levou suas devotas ao delírio e ficou assistindo de longe o caos causado por seu frenesi, Bolsonaro, que se considera o messias, estimulou a loucura das pessoas através de atos, palavras e, no final, com seu silêncio cheio de mensagens, e assistiu de fora, dos EUA, como um voyer, o pau quebrar.

Quando essas pessoas saírem do transe e perceberem que foram usadas como massa de manobra de um projeto que favorece apenas Jair e sua família, será tarde demais para muitos.

A vantagem de irem para a cadeia é que terão tempo de sobra para recobrarem a razão. Ou enlouquecerem de vez.

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