Não será difícil compreender as razões da queda vertical de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Eleito em 2018 por legenda inexpressiva e imobilizado em leito hospitalar, vítima do punhal de tresloucado inimigo, ao tomar posse em 1º/1/2019 Bolsonaro traduzia as esperanças nacionais de que teria à frente do Poder Executivo alguém envolvido com sólido projeto de reconstrução e desenvolvimento.
As primeiras dúvidas sobre o novo presidente surgem ao se observar a militarização do governo. Com as experiências do período autoritário, parte importante da sociedade civil começou a temer a volta de militares ao poder. Nada se tem contra as Forças Armadas, desde que limitadas ao exercício das atividades que lhe prescreve a Constituição da República: defesa da Pátria, garantia dos poderes constitucionais e defesa da lei e da ordem, por iniciativa de um dos Três Poderes.
A pandemia da Covid-19, chegada ao Brasil no final de 2019, expôs o lado perverso do presidente Bolsonaro. Por razões que apenas ele poderia elucidar, de imediato se incompatibilizou com o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que fazia o que estava ao seu alcance, mas sofria com as dificuldades de enfrentar vírus mortal e desconhecido, que se alastrava pelo planeta com a velocidade da luz.
O desempenho frio do presidente Bolsonaro, durante a pandemia que matou, até esta data, 665 mil pessoas e infectou mais de 30,6 milhões, exigindo de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagens, motoristas de ambulâncias e dos serviços funerários, esforços acima das possibilidades humanas, é a razão primordial da perda vertiginosa de popularidade.
Entre todos os chefes de Estado, o presidente Bolsonaro foi o único a hostilizar a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarar guerra à vacina, ao uso de máscara, ao isolamento social dentro dos limites do possível. No auge da pandemia não se emocionou, não visitou hospitais, não expressou uma palavra de solidariedade às vítimas e suas famílias.
No plano político, em mais de três anos de governo S. Exa. jamais proferiu um só discurso digno de registro histórico e de figurar em antologia. Está todos os dias diante de câmera de televisão, acompanhado do tradutor de libras, enviando à população mensagens agressivas, com as quais procura mobilizar a opinião pública contra adversários políticos, jornalistas, ministros do Poder Judiciário. A sistemática campanha contra a urna eletrônica soa como manobra tática para contestar o resultado das eleições, seja ele vencedor ou vencido.
O fracasso do governo pode ser aferido pelo número de ministros, de auxiliares e de presidentes de sociedades de economia mista exonerados. A Petrobrás tem sido um dos alvos preferidos. Jamais, contudo, apresentou fórmula racional, inteligente, factível, de reduzir ou deter o aumento dos preços de combustíveis.
Inflação, custo de vida, desemprego, falência da educação, da segurança, da saúde, dos transportes públicos, precária infraestrutura, compõem o cardápio de problemas que o Brasil enfrenta há mais de meio século. Nunca, porém, foram tão associados à imagem do governo como hoje acontece. O conjunto de inabilidades do presidente Bolsonaro, conhecidas desde os anos de deputado federal, faz do governo alvo fácil para a oposição, encarnada na figura de Luís Inácio Lula da Silva, cujos defeitos são conhecidos, mas de certo modo neutralizados pela capacidade de iludir com palavras.
Fazer de ruidosas mobilizações de motociclistas, o cavalo de batalha da campanha eleitoral, com o indicativo de votos em permanente declínio, basta para revelar a falta de sensibilidade e de competência do candidato do Partido Liberal, a 9ª legenda de acidentada carreira política.
O mais perigoso adversário de Bolsonaro não é Lula, tampouco são os partidos de esquerda. Se for derrotado, o responsável deverá ser procurado no segundo andar do Palácio do Planalto.
– Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho