Pelos meninos do oitavo, naquele lenga-lenga tradicional, misto de pirraça e sono, nos preparativos para ir à escola. Uma vez ou outra, um grito ecoava pelo poço de ventilação, anunciando que a mãe deles havia chegado em seu limite. Era de tal monta o berro que, até eu ficava quietinho no meu canto; vai que sobra para mim…!
Resultava do “—caixinha!!!!! Obrigado!!!!!!”, gritado, a plenos pulmões pelo pasteleiro da barraca-Kombi, montada na pracinha em frente e respondido, em coro, por seus colaboradores em reação aos cinquenta centavos deixados de brinde na soma do combinado pastel-caldo de cana.
Dos sons tradicionais do trânsito de motoristas mais afoitos e suas buzinas infernais, das descargas aberta das motocicletas envenenadas, dos caminhões-caçamba e seus contêineres com correntes soltas, dos helicópteros vindo do heliponto da Lagoa ou que, quebrando regras de horários permitidos, sobrevoavam o Cristo Redentor em seus braços abertos sobre a Guanabara.
Esses sons, não havia percebido, eram puro Chico Buarque para meus ouvidos. Me beijavam com a boca de hortelã, às 6h da manhã.
Hoje, se juntaram ao “Cotidiano”, “Collapse” do War of Ages e “The Evil House” da Malchus Band – do hebraico Meleque, que significa “rei”-, banda ‘heavy metal’ gospel católica polonesa, se é que isso é possível. Nada contra o estilo, confesso, em certas horas até ‘cai’ bem um Ratos do Porão, Angra, Orquídea Negra e Project46. Nunca, jamais, às 6h da matina.
(continua…)