O plano dos caciques políticos para dar uma basta na Lava Jato depois das eleições continua de pé. A grande maioria está envolvida nas campanhas país afora, mas aposta no sucesso de discretas conversas que vêm sendo mantidas entre integrantes dos vários poderes em Brasília. O mote é o mesmo de sempre: a necessidade de um entendimento que preserve a governabilidade no país.
Por essa ótica, até o atentado à faca contra o presidenciável Jair Bolsonaro, por agravar o clima de radicalização política, é visto como um reforço para um acordão que, de alguma forma, também anistie os cardeais políticos flagrados pela Lava Jato e por outras investigações sobre corrupção.
Nos bastidores, os atuais inquilinos do Palácio Planalto, os dirigentes do Congresso e as cúpulas partidárias têm dado sinais de afinidade. O que vem destoando é a falta de confiança de que o STF desse seu aval a esse entendimento. O maior receio até agora era de uma reação da presidente Cármen Lúcia, avessa a esse tipo de conchavo.
Dizem que ela não tem jogo de cintura. Prefere agradar a opinião pública à destravar os nós que o avanço da Lava Jato atou em Brasília. Bem diferente de Dias Toffoli, novo presidente do STF a partir de quinta-feira, tido com bom interlocutor, que já vem trocando ideias com gente do governo e do Congresso.
Em entrevista à jornalista Daniela Pinheiro, da revista Época, mesmo com a cautela habitual, Michel Temer falou sobre esses dois pontos tidos como essenciais para a sobrevivência de caciques político de todos os naipes: um acordo entre eles com o aval do STF.
Disse Temer: “Acho que deveria haver uma harmonia entre os Poderes. Tenho a sensação de que, ao longo deste final de ano, teremos uma harmonia maior entre os Poderes. O que vai mudar? Nos últimos tempos temos pregado, e tenho percebido que o Toffoli tem pregado um encontro com os chefes de Poder… Percebo que o Tofolli está muito desejoso de fazer, logo depois de sua posse, uma reunião nossa. Isso é importantíssimo porque mostra que o Brasil está unificado, não na ação de cada um, cada um tem as suas funções, mas reunificado em função do país”.
— O que quer dizer isso?, pergunta Daniela.
— Não acho boa essa história de todo mundo estar sendo processado. É uma coisa pouco útil para o país porque cria instabilidade.
— O que deveria ser feito?
— Você me fez uma pergunta difícil. Acho que é preciso ter dados concretos, objetivos palpáveis, desconversou Temer.
O que há tempos se sussurra em almoços, jantares e importantes gabinetes em Brasília é de que “a pacificação” seria uma versão mais sutil da famosa profecia de Romero Jucá, grampeada por Sérgio Machado, de que a troca de Dilma Rousseff por Michel estancaria “a sangria da Lava Jato”. Para isso Jucá defendia um acordão entre os cardeais da política “com o Supremo, com tudo”.
Isso já foi tentado várias vezes. Diante das redes sociais e da opinião pública, eles sempre recuaram. Apostam agora em uma janela de oportunidade que seria aberta entre a eleição parlamentar e a posse do novo Congresso, em fevereiro de 2019. Se a renovação fosse alta, com um número expressivos de parlamentares perdendo o fôro privilegiado, seria mais fácil. A expectativa é que seja baixa, devido às engessadas regras eleitorais. Mesmo assim a turma está confiante.
Quando foca na situação de ex-presidentes da República na Justiça, Michel Temer pensa em causa própria. Embora se diga insultado quando perguntado se tem medo de ir para a cadeia, ele tem, sim. Sabe que, a partir de primeiro de janeiro, perderá a proteção do cargo e o foro privilegiado e cairá na temida Primeira Instância Federal, nas mão de Sérgio Moro e de outros juízes federais.
Michel Temer sabem também que uma anistia de qualquer tipo só teria apoio político se incluir Lula — condenado por Sérgio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro, preso em Curitiba cumprindo sentença dos desembargadores do TRF-4.
De acordo com Fernando Haddad, em entrevista na Globonews, Lula não deseja indulto nem anistia, quer ser inocentado no caso do triplex do Guarujá e na penca de processos que responde na Justiça. Se dissesse o contrário, em plena campanha eleitoral, estaria dando um tiro no pé. Mas os petistas, ligados a Lula, que participaram das conversas nos bastidores em Brasília estão empenhados em qualquer solução que o tire o quanto antes da cadeia.
Parece filme velho, e é. Mas tudo indica que, a partir de novembro, em cópia nova, vai ser reprisado nos palácios de Brasília.
A conferir.