O presidente Lula está fazendo uma ginástica para que a gasolina não se transforme em óleo de cozinha e frite seu ministro da Fazenda, como ocorreria com a prorrogação, pura e simples, da desoneração tributária dos combustíveis. Afinal, o que o governo menos precisa hoje é passar sinais de enfraquecimento de Fernando Haddad. Os desafios à frente são enormes, e a condução dos projetos de interesse do Planalto no Congresso, como a proposta do novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, vão requerer um titular da Fazenda empoderado. Por outro lado, predomina no entorno presidencial a visão de que o retorno imediato e total da cobrança dos impostos federais sobre a gasolina acarretará danos políticos, com o aumento da inflação e o mau humor da classe média.
A desoneração dos combustíveis virou uma questão política, que agora necessita de uma solução política porque passou a envolver outros players. Boa parte do establishment e da mídia mainstream — que nunca entenderam bem a dinâmica petista de expor publicamente suas divergências internas e, depois de arbitradas, seguir em frente — tomou as dores da equipe econômica e noticia que Haddad está sendo fritado. Não se sabe se Haddad se sente fritado (provavelmente não), mas a prorrogação do subsídio tributário certamente irá deflagrar uma polêmica semelhante à discussão do presidente Lula com o Banco Central em torno dos juros.
Nesses casos, não importa muito quem tem razão, mas quem consegue fazer mais espuma. O establishment predominantemente neoliberal está se preparando para isso, e numa hora ruim para um governo que começa a negociar projetos no Congresso. Embora setores do PT defendam a manutenção da isenção, a maioria conservadora do Legislativo costuma seguir a cartilha do mercado. Vão decretar que Haddad está fraco, que o governo afrouxou seu compromisso fiscal e criar problemas — justamente na hora de votar o decisivo projeto que trata do arcabouço fiscal que vai substituir o teto de gastos.
Por outro lado, a ala política do governo vê sinais preocupantes na economia, e acha que a volta do imposto e o aumento no preço da gasolina podem perturbar ainda mais o ambiente. Esses interlocutores de Lula estão apreensivos quanto à velocidade de retomada do crescimento, principal carta no baralho do governo petista para isolar o bolsonarismo e sepultar movimentos golpistas.
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