Jader Barbalho e Renan Calheiros ganharam musculatura política quando superaram o medo e enfrentaram Antônio Carlos Magalhães, então todo poderoso no Senado Federal. O que eles mais aprenderam nesse embate com ACM foi a arte de amedrontar adversários. A dupla aprimorou o talento para a sedução política na convivência com José Sarney. Esse quarteto, com breves interregnos, há décadas dá as cartas no Senado.
Montaram um sistema de dominação tão enredado que até agora nada fugia ao controle deles. Nada resistia também a capacidade deles de impor sua vontade. Em seus jogos internos, regras regimentais, Leis e até a Constituição só valiam enquanto não atrapalhassem o exercício do poder. Assim criaram precedentes para toda e qualquer violação legal por maiorias eventuais.
Mas maioria depende mais de voto do que de magia. Além de uma renovação sem precedentes na história moderna do Senado, as últimas eleições também fizeram uma limpa na Mesa do Senado. Mesmo os favoritos não foram reeleitos. Sobrou na Mesa na rabeira das suplências o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), político sem maior expressão inclusive em seu próprio partido.
Davi surpreendeu ao se lançar candidato a presidente do Senado. Não foi levado muito a sério. Aqui e ali apareceram notinhas de que teria o apoio de Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro. Alguns desdenhavam. Diziam que era uma mera simpatia de Onyx por ele ter se casado com uma assessora de Davi no Senado.
A estratégia de Renan foi a de sempre. Nega ser candidato, costura apoios de fora, e assegura a sua indicação pelo MDB. Sua turma desdenhava d possibilidade de Simone Tebet vencer a disputa interna. Diziam que, se não desistisse antes, ela perderia de goleada em uma votação na bancada. Na véspera, filiaram Eduardo Gomes para não correrem risco e conseguiram uma mal explicada ausência de Jarbas Vasconcelos. Com tudo isso, venceram por apertados 7 a 5, com o senador Fernando Bezerra ainda tendo de se explicar porque mudou de posição.
Ontem isso meio que se confirmou. O favoritismo de Renan, cantado em verso e prosa, subiu no telhado. Davi Alcolumbre sentou na cadeira da presidência do Senado e de lá não saiu. Agarrou-se a interpretações casuísticas do Regimento Interno para dar um banho nos adversários. Seus defensores, além do argumento de que as ruas cobram transparência, bateram na tecla dos precedentes abertos por Renan sempre que isso lhe foi favorável.
Em algum momento, a partir dessa manhã, ele vai ser superado. Com certeza na prateleira de precedentes de Renan e de seus antecessores há soluções para toda e qualquer alternativa.
A conferir.