Desde o primeiro dos mil dias de seu desgoverno, o presidente Jair Bolsonaro só pensa em salvar a própria pele e a do seu clã e agregados cada vez mais expostos em múltiplos escândalos com dinheiro público. Assim, cada uma de suas principais promessas de campanha como o combate à corrupção, a ruptura com o fisiologismo da “velha política”, e uma política econômica vendida como liberal, foram virando pó ao longo desse período.
Virou uma farra. Passaram a pipocar falcatruas por todas as partes. As mais vistosas — e escandalosas — são os astronômicos golpes no Ministério da Saúde, com o agravante de ocorrerem na maior tragédia sanitária da nossa história. A cada pena descoberta pela CPI da Pandemia no Senado descobre-se um galinheiro de corrupção. Alguns foram criados na gestão Bolsonaro, outros herdados e assumidos de administrações passadas — mesma origem do Mensalão e da Lava Jato.
Mas na gangorra de sempre, o escracho de hoje pode ser punido amanhã. Bolsonaro realizou o sonho de todos os corruptos das últimas décadas que é por sob suas asas e de sua trupe os órgãos estatais de controle do dinheiro público — o Ministério Público, a Polícia Federal, o Coaf e por aí afora. Fez assim uma espécie de aliança tácita com as mais tradicionais forças políticas, inclusive PSDB e PT, para que todos escapassem dos escândalos em que foram envolvidos.
Ao mesmo tempo em que abria a porteira para a corrupção, Bolsonaro iludiu seus seguidores com a cascata de que estava preparando um golpe militar para acabar com a roubalheira em Brasília. Até tentou por essa carta na mesa no 7 de setembro — avançou o sinal, ficou com medo de ser destituído, e pediu arrego, na tal cartinha inspirada por Michel Temer. O que menos importa é como estão se remoendo os desiludidos com o suposto golpe bolsonarista.
Mais relevante de que esse recuo de Bolsonaro seja ou não para valer é o que o motivou. Não há menor dúvida que, no seu desespero pessoal e político, se pudesse Bolsonaro daria o tal golpe. Sua aposta nas manifestações em Brasília e em São Paulo não deram o resultado que esperava. Não houve motim em nenhum quartel das Forças Armadas e nem das policias militares em todo o país. Ele sentiu o tranco. O que ainda tinha de apoio nas elites política e econômica ameaçou pular fora. Os militares simplesmente ignoraram os apelos dos fanáticos bolsonaristas.
Nessa confusa espécie de mea-culpa, nessa segunda-feira (27), na solenidade no Palácio do Planalto para comemorar os 1000 dias de seu governo, Bolsonaro ensaiou outro pedido desculpa para quem usou e abusou em seu blefe de golpe militar: “As Forças Armadas estão aqui. Elas estão ao meu comando, sim, ao meu comando. Se eu der uma ordem absurda, elas vão cumprir? Não. Nem a mim e nem a governo nenhum”.
A intensa pregação golpista e as recentes juras de amor à democracia, além de blefes, soam como uma tentativa de Bolsonaro de conseguir uma saída para si e seu clã dos imbróglios que se meteram na esfera cível e criminal. É mais desespero que valentia.
A conferir.