Não está escrito em nenhum manual de conceito ESG (Ambiental, Social, Governança) que empresas devem se retirar de um país agressor. Por que então essa debandada rápida de inúmeras multinacionais da Rússia, que ninguém previu?
Não foram governos que exigiram, foram os consumidores e os investidores nessas empresas. No mundo inteiro, principalmente nos países mais desenvolvidos e democráticos, as pessoas adotaram a ideia que as empresas devem fazer negócios de maneira ética, justa e com alto padrão de valores. E as pessoas entenderam que se as empresas permanecessem na Rússia estariam ferindo esses princípios e assim também entenderam seus CEOs ou os Conselhos de Administração, por vontade natural ou por precaução de não serem canceladas pelos clientes e investidores.
E o lado E (ambiental) da ESG? Os países vão certamente aumentar a produção de armas e ampliar seu sistema de defesa. Isso contribui para ESG? Alguns países sem gás da Rússia voltarão a usar carvão? Mas a segurança energética também não é ESG? Pode ser a única maneira de sobreviver. De qualquer forma, a preocupação com os critérios ambientais tem que ser sincera e entranhada nas atitudes das empresas e colaboradores e cobrado da cadeia de fornecedores. “Greenwashing”, ou fazer de conta que a empresa pratica esses critérios logo logo transparece.
Essas discussões reforçam a importância do lado G (governança) do ESG. A gestão de riscos e crises deve prever as possibilidades e ter ações mitigadoras previstas. Tudo bem que é difícil prever um cisne negro, por definição. Embora uma invasão da Ucrânia fosse previsível, a decisão de saída repentina de empresas foi um cisne negro – imprevisível e com consequências drásticas.
Por transparência entende-se que mais do que a “obrigação de informar”, a Administração deve cultivar o “desejo de informar” não apenas sobre o desempenho econômico-financeiro, mas também sobre todos os fatores que norteiam a ação empresarial. O conceito ESG se espalhou pelo mundo corporativo, para investidores e consumidores. Os lados E e S são a base, mas o G é que pode garantir que o ESG funcione. Uma guerra pode causar uma adaptação circunstancial, situações novas ocorrem, porém a direção ESG é inexorável.