“Reforma política” é uma expressão habitualmente usada pelos políticos em momentos de crise. O uso contínuo e abusivo, como detergente capaz de limpar os males do sistema, foi desbotando seu significado. No ano passado, o Congresso aprovou mudanças nas regras eleitorais e partidárias. A proposta começou ambiciosa, mas acabou reduzida a alguns pontos, sendo o mais importante a restituição da cláusula de barreira, exigindo dos partidos percentuais mínimos de votação em todo o país. Nas eleições de outubro passado, trinta partidos conseguiram votos para a Câmara, mas pelo menos 10 foram alcançados pelo mecanismo, gatilho para uma reorganização que já está em curso.
Mais que um problema para os governantes que precisam negociar com o Congresso, a proliferação de partidos é uma deformação com alto custo político. Dificulta a formação de maiorias e pode inviabilizar debates mais profundos – caso da reforma da Previdência. Como já definiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, as legendas tornaram-se corporações, especialmente depois do fim do financiamento eleitoral com dinheiro privado.
O PSL de Jair Bolsonaro espelha a distorção. Saiu de cinco para 52 deputados. Em São Paulo, a deputada estadual eleita Janaína Paschoal obteve mais de dois milhões de votos pela legenda, feito inédito.
Encontrar ideias-força de coesão para iniciar esse debate pode ser uma das primeiras tarefas do novo Congresso. O atual sistema, como provou a eleição, está em ruínas.
P.S. Diz o ditado que política é como nuvem. Para comprovar o dito, Michel Temer, já quase habituado ao ruído das vaias, não escondeu o sorriso ontem, no Planalto, com os gritos de “Fica, Temer”, numa solenidade com prefeitos. Foram breves, mas deram ao presidente mais impopular da História do Brasil um ar renovado.