Para surpresa de ninguém, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não pretende participar dos tradicionais debates entre os presidenciáveis, promovidos pelos principais veículos de comunicação do Brasil no primeiro turno. Na maior cara-de-pau, chegou a propor que as perguntas fossem previamente combinadas, alegando evitar baixarias. Pura balela. Bolsonaro teme enfrentar questões incômodas, para as quais sabe não ter respostas convincentes para os eleitores.
Por ter consciência do que fez e do que não fez, sabe que será o alvo preferencial dos adversários, não apenas nos debates, mas na propaganda do horário eleitoral no rádio e televisão, que começa em agosto. A diferença é que na propaganda ele terá como responder aos ataques de forma pensada, com uma equipe de profissionais por trás para embalar o conteúdo.
Os assuntos a serem explorados pelos adversários num debate ao vivo são muitos e desagradáveis para o presidente. Podem perguntar sobre a interferência na Polícia Federal ou sobre o uso da Abin e outros órgãos de Estado para proteger os filhos de investigações, como o senador Flávio Bolsonaro, o 01, enrolado nas “rachadinhas”, ou o 04, Jair Renan, de tráfico de influência.
A aliança com o Centrão e o orçamento secreto certamente seriam um prato cheio para os adversários. Afinal, Bolsonaro se elegeu em 2018 prometendo acabar com o toma-lá-dá-cá entre Executivo e Legislativo e o que se viu foi uma verdadeira farra com o dinheiro público.
Os debates são cansativos e as vezes, de fato, descambam pra baixaria, mas são importantes para os eleitores que não fazem parte das torcidas organizadas de políticos – nem da direita, nem da esquerda. É por meio dos debates que vemos quais são as propostas dos candidatos para os reais problemas do país.
Ali, o candidato se expõe de forma mais verdadeira, embora exista toda uma preparação anterior.
Faltar aos debates por não querer dar explicações dos seus erros é, no mínimo, um desrespeito com o eleitor. Para quem, segundo as pesquisas, está atrás na corrida presidencial, pode ser fatal. É o velho dilema de que, se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come.