Na História da Humanidade passamos por períodos bons e períodos maus. A própria Terra atravessou transformações gigantescas até sua formação atual, que continua e continuará até que, nas previsões atuais, o Sol esquente até se tornar uma gigante vermelha em cinco bilhões de anos, se esfrie — e ninguém ainda chegou à conclusão do que então acontecerá com ela, Terra, talvez seja simplesmente absorvida pela estrela.
Do mesmo modo os continentes sofrem transformações geográficas e são vítimas do mundo cão, com a infinidade de furacões e terremotos, que, apesar de exaustivas e intensas pesquisas, somos impotentes em evitar. Mas não nos acostumamos com eles, que continuam a provocar catástrofes enquanto nos amedrontamos com palavras como “tsunami”.
Os países também sofrem seus anos de baixo e alto astral. Na Inglaterra, em 1992, no desespero das guerras dos tabloides sobre a família real, que sofria muitos ataques e problemas, tendo por carro-chefe os escândalos em torno da Princesa Diana, a rainha Elizabeth chamou aquele de annus horribilis.
Não há dúvida de que estamos vivendo um período de aquecimento da Terra, com os dados já existentes do aumento de um grau desde a Revolução Industrial, com a maior frequência de fenômenos como El Niño — o aquecimento das águas dos oceanos em determinadas regiões do Pacífico, com reflexos mundiais, mas em especial na América do Sul. Exacerbam-se enchentes e secas. Até o Rio Grande do Sul, há cinco anos, enfrenta um regime de invernos irregulares com consequências na lavoura e na economia.
É com sentimento de tristeza que vemos se repetir o desastre no Pantanal, que, no ano passado, teve um terço do seu território queimado — metade em áreas ocupadas pelo homem —, já perdeu três quartos da sua superfície de água e talvez não tenha capacidade de sobreviver. Na Amazônia vemos também se repetirem os picos de destruição. Vemos o restinho — 12% — que sobrevive da Mata Atlântica ser atingido de maneira recorde. Os produtores deviam perceber o prejuízo das queimadas para as safras e para a reputação de nossa agricultura e ajudar a combatê-las.
E agora não temos medidas de prevenção da crise hídrica, aumentando o risco de apagão elétrico e desabastecimento d’água nas cidades. Era só o que nos faltava.
Ainda bem que não temos família real.
— José Sarney é ex-presidente da República, ex-senador, ex-governador do Maranhão, ex-deputado. Escritor. Imortal da Academia Brasileira de Letras (Artigo Publicado também no Jornal O Estado do Maranhão)