Em meados do Século XIV ousadas caravelas conduzidas por uma tripulação assustada mas disposta a atravessar os mares, a partir da Europa, iniciou suas operações em direção à costa da África. O objetivo era prender, sequestrar, matar, se preciso fosse, homens e mulheres negras, transportá-los como animais, espancados e mal alimentados nos porões. Milhares morreram e foram jogados ao mar.
Esses eram os terríveis navios negreiros usados pelas potências da época para prender e transportar africanos, sem nenhuma preocupação. Para o Brasil trouxeram possivelmente o maior número de escravos raptados na África. Dessas gerações de assassinados violentamente alguns milhares escaparam da morte e permaneceram na nova colônia portuguesa instalada no Brasil. Milhares foram barbaramente torturados até a morte.
Os negros vindos da África hoje constituem mais da metade da população brasileira, atesta o IBGE. Ainda assim eles e os pardos continuam sendo prejudicados em todos os setores: emprego, educação, atendimento médico, oportunidades de trabalho, violência policial. O número de negros que conseguem vagas nas universidades públicas é baixo mas está em fase de crescimento. Do início de janeiro deste ano até hoje, praticamente dobraram os crimes de preconceito de raça, etnia e religião.
Praticamente em todos os setores da atividade humana os negros são tratados com desdém, a despeito da mencionada convivência entre negros, brancos e pardos. É difícil mas a situação deve melhorar gradativamente, devido ao esforço dos negros, da conscientização e do incremento da ação social, nesses últimos anos. A conscientização dos negros sobre a necessidade de avanço em todos os setores da atividade humana já se tornou irreversível.
Não há como retroagir e os brancos, em minoria crescente, terão de se comprometer e partilhar do desenvolvimento social e material com negros, pardos, mestiços. A pressão será cada vez maior pela normalização e o apoio aos milhões de brasileiros de cor. Eles passaram por uma vida de sofrimentos, privações e mortes, desde que bandidos e assassinos portugueses invadiram a costa africana, perseguiram os nativos e os acorrentaram: homens, mulheres e crianças.
Os negros, pardos, mulatos, como queiram, apesar de todas as dificuldades enfrentadas se destacam positivamente em suas atividades. Infelizmente, há décadas passam fome, vivem em barracos, favelas, faltam-lhes comida, saneamento e educação. Nenhum ser humano pode ser marginalizado pela cor de sua pele, ou qualquer de suas características físicas.
Não houve praticamente punição aos milhares de criminosos, de Portugal e alhures, que assaltaram e liquidaram a alma e a dignidade dos africanos. Negaram-lhes inclusive a instrução. Os africanos no Brasil hoje estão com sua população superior à de outros brasileiros. Alguns milhões à frente. Sofreram massacrados, sobreviveram e trabalharam.
Não conseguiram obter o que lhes seria fundamental, como a educação e a saúde. Os afro-brasileiros não merecem as grosserias e insultos que ainda lhes impingem. Comemorar a data da abolição da escravatura é uma formalidade. Estimular e sempre lutar em prol da consciência negra, destacando-lhes novas ações e perspectivas é importante para a convivência.
— José Fonseca Filho é jornalista