Jair Bolsonaro atravessou o samba. No ócio de uma manhã de carnaval, decidiu comprar briga com Daniela Mercury e Caetano Veloso. O presidente, ao que parece, acordou irritado com a música “Proibido o carnaval”, gravada pelos dois artistas num clip com cenas picantes e debochadas. Nos blocos de rua que tomaram as grandes cidades, Bolsonaro foi alvo de protestos, como ocorre há muitos carnavais com todos os políticos que estão no poder. Na sua vez, decidiu responder usando o principal adereço de sua presidência, as redes sociais.
O presidente tentou atacar dois artistas extremamente populares encomendando uma marchinha como resposta e acusando-os de se “locupletarem” com a Lei Rouanet. Demonizar artistas — especialmente no carnaval — é causa perdida. É mais um sintoma de um governo sem rumo depois de dois meses no poder. Chega à quarta-feira de cinzas como entrou: ainda é uma promessa de campanha.
O país tem 13 milhões de desempregados e mais de 2 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. O PIB cresceu 1,1% em 2018. Mas o presidente se preocupa com o que cantam os artistas nos trios elétricos. Seu ministro da Educação, com o Hino Nacional. Seu chanceler usou a folga para atacar um ex-presidente da República — Fernando Henrique Cardoso — fugindo às boas maneiras que regem a diplomacia. E Sérgio Moro descobriu que sua caneta tem tinta, mas falha por ordem superior.
Carnaval rima com política. É como arroz e feijão. É um casamento indissolúvel, e a dupla voltará com tudo em 2020. Até lá, Bolsonaro tem tempo. Basta deixar de caçar fantasmas, problemas imaginários, e tratar do mundo real. Amanhã é quarta-feira, hora de começar.