A inércia inflacionária, o repasse de custos de tarifas públicas e o impacto cambial sobre os produtos importados estão retardando a queda da inflação e as atuais taxas de juros.
A conclusão é do economista Cláudio Hamilton, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para Os Divergentes. Hamilton diz que a eficácia da atual política monetária depende da reconquista da credibilidade do Banco Central (BC) junto aos agentes econômicos de que levará a inflação para dentro da meta, coisa que foi negligenciada por sua diretoria anterior.
A consequência da perda de credibilidade do BC nos últimos anos, segundo Hamilton, foi o surgimento da inércia inflacionária. Ou seja: apostando que o BC não controlaria a inflação, os empresários fizeram aumentos preventivos de preços dos produtos para compensar as perdas inflacionárias. Como nos últimos anos a inflação sempre ficou acima da meta, a chama inércia inflacionária virou um problema.
Hamilton atribui, também, outros três fatores para a resistência da inflação, além das atuais taxas de juros: Em primeiro lugar, a desvalorização do real diante do dólar vem aumentando os custos de diversos componentes importados da indústria, como automóveis, computação, produtos químicos, defensivos agrícolas etc. Adicionalmente, os preços dos serviços, como educação, planos de saúde, alimentação fora de casa, entre outros onde os efeitos da recessão ainda não estão presentes. E, por fim, os efeitos sazonais sobre os preços dos alimentos: as frustrações de produção devido a problemas climáticos e os impactos dos custos de fretes explicam a resistência da uma queda mais rápida da inflação neste setor.
Apesar destes fatores, Cláudio Hamilton acredita que a inflação tenderá a uma queda mais acentuada daqui para o final do ano em consequência da continuidade da atual política monetária contracionista. “A velocidade da queda da inflação vai determinar o inicio do ciclo de redução de juros. O BC está passando aos agentes econômicos sinais claros de que não será leniente com a inflação”, disse.