Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
O primeiro debate dos candidatos, na noite do dia 9, foi o destaque da eleição na semana, mas no Twitter, os memes e piadas dominaram: “já que os candidatos nos fazem chorar, vamos rir também!” resumiu um dos tuítes de alta visibilidade no período entre 3 e 10 de agosto.
Rir foi a resposta dos usuários do Twitter à campanha esta semana.
Nenhum candidato escapou do humor dos internautas e os memes atingiram todos, independentemente de partido, e com ênfases diversas, desde a aparência até trechos das falas no debate, erros em programas etc.
Entre os memes de relevância, desde a comparação de Marina Silva (Rede) ao E.T. do filme de Spielberg; Ciro Gomes (PDT); Henrique Meirelles (MDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) em uma mesma composição, chamados de os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Álvaro Dias (Podemos) foi comparado ao personagem Coringa, do Batman. Também foram tuitados memes sobre promessas dos candidatos, como a de Ciro sobre ajudar as pessoas a tirarem o nome do serviço de proteção ao crédito.
No debate, os memes com maior engajamento envolveram a pergunta do candidato Cabo Daciolo a Ciro Gomes sobre a criação da URSAL – uma suposta União da República Socialista da América Latina. A resposta do candidato do PDT foi popularizada em diferentes formatos. O episódio ganhou destaque na timeline da candidata a vice do PT, Manuela D’Ávila que aproveitou a visibilidade do evento, mesmo sem ter participado. Em um vídeo, anunciou que iria convidar o ex-presidente do Uruguai José Mujica para presidir a URSAL, e obteve 205 mil vezes visualizações. Também com forte engajamento, as interpretações sobre um embate entre Guilherme Boulos (PSOL) e Bolsonaro no debate.
A maioria dos candidatos se rendeu ao humor da semana e incorporou as piadas a sua timeline. Entre eles, Alckmin, que chamou Angélica de Eliane, em entrevista com o marido dela, Luciano Huck. Também Álvaro Dias adicionou o meme do Coringa a sua timeline.
Limite ético e legal
As piadas e os memes se destacaram numa semana em que estranhas ações coordenadas provocaram sérias distorções na rede.
Na sexta, dia 10, a revista Veja divulgou uma matéria dizendo que “a maioria dos candidatos à presidência se apoia em estratégias irregulares para se promover na internet e fingir aos eleitores que são mais influentes do que realmente são.” Entre essas técnicas estaria o uso de robôs e outras irregularidades que podem incluir grupos de perfis administrados por uma pessoa e cabos eleitorais virtuais. Já há estimativas, segundo jornal O Globo, de que 10% dos tuítes durante o debate foram robôs ou perfis falsos.
Nesta semana, a pesquisa da AJA analisou mais de 2.421.130 interações entre 1.048.484 usuários no ecossistema das eleições no Twitter.
A análise da visualização dos dados desses mapas, além das métricas – ambas feitas semanalmente pela AJA há 22 semanas – revela estruturas das topologias, que começam a indicar padrões de comunicação na campanha. A forma dos fluxos indica, por exemplo, o quanto um engajamento é “natural” ou não. O “natural” refere-se ao crescimento sustentável e ético, que é a persuasão de cada candidato somada à animação da comunidade em torno dele: as conhecidas estratégias de crescimento de audiência. Graficamente, elas são representadas por uma estrutura irregular, mais orgânica, caótica, “líquida”.
Por outro lado, nuvens organizadas e regulares indicam o uso de robôs para retransmitir mensagens e publicar mensagens construídas por uma equipe, ou contas falsas usadas para impulsionar hashtags, ou ainda “cabos eleitorais” digitais – que constituem algumas variações das chamadas ações coordenadas, que vêm sendo registradas desde o fim de julho. Nestas nuvens organizadas, fez-se análise esta semana de uma amostragem em algumas contas de apoiadores de alguns candidatos, e a hipótese se confirma.
Com base nessa descoberta, pergunta-se: qual é o limite ético para as técnicas de crescimento de audiência?
De um lado, as redes sociais dizem estar em combate ativo contra perfis falsos e robôs, além de cuidarem para minimizar a disseminação de fake news e as ações coordenadas. Tudo isso para evitar que se crie uma “realidade alternativa” em que o eleitor não familiarizado com a dinâmica dos bastidores da rede tenha a impressão de que certo candidato é melhor apenas porque sua atividade é reforçada por técnicas de information warfare.
Seria válido pagar por uma claque digital (como nos comícios de antigamente)? Um candidato a presidente que manipula dados é confiável? E qual o limite legal? A justiça no Brasil tem como identificar os abusos? Para continuar a leitura, clique aqui.