Trump, Maduro, Direitos Humanos e Fanatismo

Semana passada, chocaram o mundo imagens de crianças presas em jaulas nos EUA. O procedimento era parte da política de tolerância zero do Presidente Donald Trump com imigrantes ilegais. Sem os documentos necessários, esses imigrantes iam presos, enquanto seus filhos eram levados para centros de detenção para crianças e adolescentes. Após pressão intensa da comunidade internacional e defensores dos Direitos Humanos, Trump voltou atrás e decidiu que as famílias de imigrantes ilegais não seriam mais separadas.

Mais perto do Brasil, a Venezuela segue sob o regime chavista, agora comandado por Nicolás Maduro. Em relatório divulgado na sexta-feira, 22, a ONU afirmou que o Estado de Direito praticamente inexiste na Venezuela, denunciando repressão dos opositores, que incluem execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e a tortura com agressões sexuais, simulações de execução e descargas elétricas. O relatório foi confeccionado a partir de entrevistas feitas à distância, pois o governo Maduro impediu a visita de integrantes da ONU no país.

Nicolás Maduro .

Pessoas comprometidas com os princípios democráticos rechaçam os ocorridos nos EUA e Venezuela, entretanto faz-se necessário frisar que, no país norte-americano, o sistema de contrapesos da democracia funciona e garante controle e publicidade de políticas tão sinistras. Já na Venezuela, há total opacidade, com as instituições solapadas pelo regime chavista e sem cumprirem seus papéis democráticos, servindo como linha auxiliar do governo.

No entanto, há pessoas comprometidas, não com a democracia, mas com uma determinada ideologia. São fanáticos, capazes de apontar ferozmente as violações aos Direitos Humanos de um, mas ignorarem as violações do outro. Podem dizer que a política de imigração de Trump é parte de um programa maior, que visa expandir o crescimento da economia americana (mesmo com base em um inflacionismo), e aqueles que apontam a gravidade das imagens das crianças nada mais são que oposicionistas tentando sabotar o governo. Já na Venezuela, o importante seria a garantia da soberania nacional, em detrimento das investidas dos EUA sobre as reservas de petróleo do país. O excesso de força é necessário, para manter a “oposição fascista” fora do poder. Ignoram, por exemplo, que cada 64% dos venezuelanos perderam, em média, 11 kg nos últimos anos, com cerca de 90% da população vivendo na pobreza e o salário valendo menos de 5 reais.

 

Os generais Augusto Pinochet e João Figueiredo no passeio de charrete num quartel de Santiago do Chile, em 1980. Foto Orlando Brito

Os fanáticos ideológicos fazem vistas grossas para quaisquer violações de direitos humanos e descompromisso com princípios democráticos de seus protegidos no poder. E, trata-se de um mal ambidestro, com romantização dos antigos regimes soviéticos, elogios à ditadura cubana e agora defesa do regime chavista na Venezuela indo até a defesa do governo Pinochet no Chile, da Ditadura Militar no Brasil e agora a diminuição de atos condenáveis por parte do governo Trump. Para essas pessoas, democracia significa ter alguém alinhado à sua ideologia no poder. Mesmo que isso implique em falência institucional, supressão de liberdades individuais e carestia da população, sobretudo mais pobre. Nesse caso, a culpa não é do governante (visto como bem-intencionado) mas dos “inimigos externos”, usados para justificar todas as desumanidades possíveis.

*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com

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