Lula, Bolsonaro e o Tititi Eleitoral

A semana iniciou-se com um desembargador plantonista querendo revisar, a qualquer custo, decisão do colegiado do TRF-4 para soltar o ex-presidente Lula e termina com Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidenciável Jair Bolsonaro, curtindo uma foto de Lula sem camisa no Instagram, fato que gerou enorme repercussão, tanto em veículos tradicionais da imprensa como nas redes sociais.

Deputaados Eduardo e Jair Bolsonaro, filho e pai, no Plenário da Câmara

Além de envolver Lula, o que esses fatos tem em comum? A evidência de que o debate eleitoral deste ano, novamente, será de um nível muito baixo. O fato de uma curtida em foto tornar-se destaque coloca o debate eleitoral no nível da fofoca, transformando o noticiário político em mero tititi.

Enquanto as facções políticas se engalfinhavam em torno da continuidade da prisão de Lula, as ideias que Lula representam estavam à solta no Congresso Nacional. De uma tacada só, senadores e deputados aprovaram uma pauta-bomba, com impacto de R$ 100 bilhões nas contas públicas, já muito debilitadas, nos próximos anos. Destaques para a manutenção da possibilidade de reajuste para servidores públicos em 2019, a volta de incentivos fiscais para a indústria de refrigerantes e o REFIS do Simples Nacional, regime de tributação conhecido por já pagar poucos impostos.

plenário Câmara. Foto Orlando Brito

Os absurdos aprovados pelo Congresso ficam ainda piores, se levarmos em conta que as projeções de crescimento econômico contidas no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias consistem em 3% neste ano, sendo que o próprio Ministério da Fazenda já reduziu suas projeções para 1,6%, quase metade do previsto no referido projeto de lei. Ou seja, o Congresso está abrindo mão de receitas e criando mais despesas em um cenário que indica arrecadação ainda menor para o governo federal.

Entretanto, tais barbaridades acabaram ensanduichadas entre os dois fatos mencionados, e tiveram pouco tempo de destaque, sem merecer comentários por parte dos principais presidenciáveis que, independente de quem seja eleito, serão os mais prejudicados por tais medidas. Esperava-se, no mínimo, uma postura indignada e séria para trazer a luz do debate eleitoral o significado prático que essas medidas terão para o restante da população não-integrante de alguma corporação, por elas beneficiada.

A recuperação econômica segue patinando e em grande risco de voltar a uma recessão em médio-prazo. A crise fiscal no país segue gravíssima, com sérias dificuldades para o próximo presidente cumprir o Teto de Gastos, e vivendo à espreita de ser enquadrado por crime de responsabilidade, caso descumpra a Regra de Ouro, haja vista que o próprio Orçamento não inclui mais de R$ 200 bilhões em gastos obrigatórios, como aposentadorias e salários, para que a Regra não seja descumprida, cabendo ao próximo mandatário precisar de crédito suplementar, aprovado por maioria absoluta do Congresso Nacional.

Os desafios do próximo governo são imensos e exigem um debate eleitoral sério e honesto, sem tergiversações por parte dos candidatos. Porém, vê-se a dominância de assuntos secundários, como a liberdade de Lula, ou fofocas, como as curtidas de determinado político nas redes sociais. Desta forma, abre-se caminho para a vitória de um salvador da pátria, com propostas fáceis e mentirosas para problemas complexos.

 

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