O levante que nunca aconteceu

A chegada de Lula à Federal de Curitiba - Foto Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

O ex-presidente Lula completou, no dia 7, um mês de prisão. Ainda restam outros 12 anos das penas pelos crimes de corrupção passiva. Apesar dos mais de 30 dias recolhido a uma sala na Polícia Federal de Curitiba, improvisada como cela, não se materializaram quaisquer das ameaças e previsões apocalípticas feitas por figuras de proa de seu partido e de outras linhas auxiliares do chamado lulopetismo. O Brasil, felizmente, não viu convulsão social, levante popular, revolução das massas oprimidas ou revolta dos desterrados prometidos por aqueles que seguem bovinamente defendendo um condenado em segunda instância, após cumpridas todas as exigências legais e assegurada até os estertores o direito de defesa e do jus sperneandis. Que mico mundial…

A ausência evidente de respaldo popular para as ameaças dessas “lideranças” me fez lembrar aquela fábula: o rei está nu. Aliás, há muito tempo. Completamente despido de qualquer solidariedade pela esmagadora maioria dos brasileiros, muito em especial os mais pobres, que ainda sentem no lombo os efeitos devastadores de uma crise econômica que atrasou o já atrasadíssimo Brasil em pelo menos uma década. Uma crise econômica, social e política também, aliás, sem precedentes na República, causada pelos erros crassos de condução do governo e pelos gigantescos esquemas de corrupção implantados ou amplificados pelo PT e seus parceiros de poder.

O acampamento Marisa Leticia. Fotos Públicas/ Gibran Mendes

Paulo Delgado, ex-deputado federal pelo PT, escreveu um memorável artigo, há quase três meses, onde cobrava uma urgente e imprescindível autocrítica daqueles que, de uma forma ou de outra, emprestaram seu apoio a esse mecanismo de assalto ao Estado brasileiro. Um dos primeiros a embarcar no sonho do partido dos trabalhadores e para os trabalhadores – e também um dos primeiros a desembarcar do partido que se associou às mais retrógradas elites para governar e pilhar o país –, ele tem legitimidade de sobra para resumir o tamanho do problema. Ele escreveu:

“Um partido de esquerda moderno e com capacidade de diálogo deve parar de tratar de forma errada o erro. E reconhecer que um período de governo com um presidente deposto, três ex-presidentes da Câmara, senadores e inúmeros ministros de Estado presos ou processados, dirigentes partidários e governadores confinados ou envolvidos, a maior empresa do País dilapidada, a autoridade olímpica nacional presa, o bilionário do período encarcerado, a Copa investigada, fundos de pensão arruinados, o BNDES um clube de amigos, grandes empresários condenados, frugal intimidade com ditadores, etc., não foi um período virtuoso.”

Como o artigo foi escrito quase dois meses antes do cumprimento pela Polícia Federal do mandado de prisão contra Lula, este relevante detalhe não constava de seu resumo. É a chamada cereja do bolo. Vozes mais racionais e honestas à esquerda, infelizmente ainda em flagrante minoria, já fizeram essa revisão crítica de sua passagem pelo poder. Mas, ao insistir em posturas lesa-pátria como a teoria do golpe, os ataques à Justiça e ao Ministério Pública, a incitação à violência e divulgação no exterior de mentiras contra o sistema legal e político do país, o PT e seus satélites mergulham, cada vez, na areia movediça que ameaça engolir a todos quando as urnas de outubro mandarem seu recado.

Tá mais do que na hora da autocrítica. Já passou da hora. É indispensável. A democracia brasileira precisa do confronto das ideias e projetos entre direita, esquerda, centro. Mas cadê a esquerda que se esconde atrás de um discurso obtuso, quase cínico, de que tudo é questão de pobres contra ricos, pretos contra brancos?

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