Para Haddad, é mais que Fla x Flu: é guerra de facções

Ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad

Há quem demonstre imenso incômodo com a ideia de que vivemos na política um clima de Fla x Flu. Uma guerra insana de torcidas que impede qualquer visão mais equilibrada da profunda crise em que nos metemos e no melhor caminho para conseguir sair dela. Recentemente, o ex-secretário de Comunicação no governo Lula, Franklin Martins, rechaçou num debate a ideia do Fla x Flu. E, mais do que isso, sacou da Divina Comédia de Dante Aleghieri para dizer que em tempos de crise os piores lugares do inferno são reservados para quem fica neutro.

Bem, é claro que o poema de Dante é uma alegoria. Ele não desceu realmente aos infernos e, portanto, não sabe ao certo como ele seria organizado e que seções reservaria a cada tipo de pecador. Mas, além disso, ficar fora das torcidas do atual FlaXFlu da política brasileira não significa exatamente ficar na neutralidade. Há bem mais nuances e times nesse jogo que a turma mortadela de um lado e a turma coxinha do outro.

Mas o curioso é que, desta vez, quem falou em Fla x Flu, sem usar o termo, foi o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, alguém que parece estar sendo preparado como possível plano B do PT para uma candidatura à Presidência caso Lula, pelos problemas com a Justiça, não possa concorrer. Haddad conseguiu usar uma imagem bem mais agressiva que a do FlaXFlu. Em entrevista ao braço brasileira da agência de notícias britânica BBC, ele disse que o clima vivido hoje na política brasileira é de “guerra de facções”.

Para Haddad, esse clima de “guerra de facções” impede o PT de fazer uma autocrítica mais profunda dos eventuais erros que tenha cometido no poder, ao aderir às regras do nosso presidencialismo de coalizão. Aquele que o PSDB (ou, para ser mais preciso, o senador Tasso Jereissati, presidente interino do partido) batizou de “presidencialismo de cooptação”. Se, ao aceitar essas regras, o PT lambuzou-se nas suas benesses, o clima de guerra torna difícil fazer a admissão e o contorno para sair dessa situação.

Na avaliação de Haddad, ficaria complicado levar adiante essa discussão diante do emocionalismo do debate político e da forma desequilibrada como agem a justiça e o Ministério Público. Desvios de alguns não geram a punição que geram os desvios de outros, segundo ele. “Não vi nenhum tucano ser conduzido coercitivamente a lugar nenhum. Tucano preso parece que o Ibama proíbe”, provoca.

No raciocínio de Haddad, fica difícil num contexto desses fazer autocrítica e virar a página. Porque tudo viraria motivo para ataques do outro lado e para a continuação da discussão emocional que nos atola.

Bem, vimos do outro lado a dificuldade do PSDB em fazer a sua autocrítica. O ensaio feito por Tasso Jereissati no programa dos tucanos só gerou mais problemas. O programa não deixou claro qual o erro. Não disse quem teria errado. E, ao atacar diretamente o governo Michel Temer, deixou constrangidos os tucanos que fazem parte dele. Uma ala do PSDB quer Tasso o mais rápido possível fora do comando do partido.

Fernando Haddad talvez tenha razão. Se vivêssemos tempos de normalidade, gestos de autocrítica talvez fossem mais frequentes…

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