Muito além do bigode de Jucá

Romero Jucá

Na tentativa de transformar seus problemas em piada, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) comentou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teria algum fetiche pelo seu bigode, numa reposta ao fato de ter virado pela terceira vez alvo de denúncia do Ministério Público. Bem, Jucá deve talvez agradecer à própria sorte. Se tudo não passar mesmo de alguma fixação, bem maior atração provavelmente terá Janot e os demais procuradores por outros peemedebistas que amargam uma cana já há algum tempo: Sergio Machado, Sergio Cabral, Eduardo Cunha

É até possível se questionar eventuais excessos e posicionamentos de Janot, do Ministério Público como um todo, da Justiça, da Polícia Federal nesse terremoto crônico que genericamente se chama de Operação Lava-Jato. Mas é, sem dúvida, uma tática de quase todos – sem entrar no mérito se de forma justa ou não – procurar dar ares de querela pessoal, personalizar, às acusações que vão surgindo. O senador Fernando Collor (PTC-AL) faz isso como o mesmo Janot (a quem insiste em chamar de “Janó”). Também o presidente Michel Temer. O ex-presidente Lula faz isso com o juiz Sergio Moro. E por aí vai.

O fato é que a Lava-Jato a essa altura, de acordo com os dados do Ministério Público, já levou a 65 acusações criminais contra 277 pessoas. Já houve sentença em 33 casos, que somam 1.563 anos, sete meses e cinco dias de cadeia. Ou os procuradores são uns chatos que declararam guerra contra o mundo, ou a questão vai muito além de uma eventual atração pelo bigode de Romero Jucá ou de quem quer que seja.

No caso específico do PMDB, era meio natural que o partido viesse a ser a grande vítima seguinte da investigação, após o PT. O que a operação investiga são esquemas montados de corrupção no governo, a partir do fio inicial da Petrobras. Os últimos governos foram uma parceria PT/PMDB. Uma parceria que, diga-se, o PMDB fez questão de ver montada.

Nunca é demais relembrar como foi se formando a associação entre os dois partidos. Na eleição de 2002, o PMDB oficialmente apoiou a candidatura de José Serra, do PSDB, contra Lula, que tinha então como parceiros o PL do então candidato a vice José Alencar, e os partidos de esquerda e centro-esquerda, como PSB e PCdoB, entre outros. No curso da eleição, o PMDB rachou. Especialmente com a adesão do grupo ligado ao ex-senador José Sarney a Lula. Jucá começou o governo Lula filiado ao PSDB e na oposição.

Quando Lula venceu as eleições, no período de transição, José Dirceu, que depois seria o ministro da Casa Civil, iniciou negociações para levar o PMDB para o governo. Lula acabou desautorizando o processo, porque não confiava à época no presidente do partido, Michel Temer. Negociou pontualmente com setores do PMDB, ligados especialmente a Sarney e ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Sem o PMDB, montou-se o modelo do mensalão, de negociação pontual com os políticos em troca das benesses do esquema. Somente depois que o mensalão estourou, começou-se a costurar a entrada formal do PMDB no governo.

Que se sacramentou na eleição de Dilma Rousseff com Michel Temer de vice. Nesse momento, o PMDB passou a ocupar oficialmente a posição de parceiro preferencial do PT no governo, ocupando de fato setores da administração. E criando ali, segundo dizem as investigações, seus esquemas. Um caso notório, de acordo com ele mesmo, era Sergio Machado na presidência da Transpetro, o braço da Petrobras na área de transporte de petróleo e derivados.

Nesta terça-feira, Rodrigo Janot homologou no Supremo Tribunal Federal a delação premiada de Lúcio Funaro, o principal operador peemedebista. Está lá no Supremo porque a delação envolve nomes com foro privilegiado. Mais do que isso, envolve o principal nome da República com foro privilegiado, o presidente Michel Temer.

Certamente, os fetiches de Janot seguirão, quando os detalhes da delação foram conhecidos, indo muito além dos fios do bigode de Romero Jucá…

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