Dilma enxerga o topete de Trump no horizonte brasileiro

Dilma Rousseff. Foto Orlando Brito

Em entrevista publicada hoje no jornal americano Washington Post, a ex-presidenta Dilma Rousseff diz enxergar no horizonte brasileiro o topete meio laranja meio dourado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para Dilma, há por aqui ambiente semelhante que também pode levar à eleição de alguém com perfil parecido com o do ex-apresentador americano do reality show O Aprendiz.

“Há alguns poucos anos, eu diria que isso era impossível”, diz Dilma ao Washington Post. “Agora, eu posso dizer que é muito possível. De fato, é possível apontar alguns perfis parecidos com o de Trump”. E ela menciona ao jornal dos Estados Unidos o prefeito de São Paulo João Dória (PSDB) e o deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro (PP-RJ). Na avaliação de Dilma, o Brasil também está passando pela mesma tendência de crescimento das posições de direita, conservadoras, que se observou nos Estados Unidos na troca de Barak Obama por Trump e que acontece também em boa parte da Europa.

A pesquisa do Ibope divulgada nesta quinta-feira (20) corrobora em muito a impressão passada por Dilma ao jornal americano que tem como lema “A Democracia morre na escuridão”. Se a pesquisa mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, como sendo hoje o político com maior potencial para vencer as eleições de 2018, ela mostra também que todos os nomes mais conhecidos do espectro político – aí, Lula, inclusive – têm hoje índices muito altos de rejeição.

Segundo a pesquisa, 47% dos entrevistados dizem que votariam em Lula “com certeza”. Mas 51% dizem que não votariam em Lula “de jeito nenhum”. A favor de Lula, é preciso dizer que houve melhora expressiva nesses índices com relação à rodada anterior, onde 31% disseram que votariam “com certeza” e 66% disseram que não votariam “de jeito nenhum”. Com relação aos demais candidatos conhecidos, quem vem em segundo é Marina Silva, da Rede (33% votariam nela “com certeza” e 50% não votariam “de jeito nenhum”). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB (31% “com certeza” e 54% “de jeito nenhum”). Depois, José Serra, do PSDB (25% “com certeza” e 58% “de jeito nenhum”). Aécio Neves, também do PSDB (22% “com certeza” e 62% “de jeito nenhum”). E Ciro Gomes (18% “com certeza” e 49% “de jeito nenhum”).

No caso dos potenciais candidatos a Trump, os percentuais de rejeição são menores. O que há com relação a eles é que a maioria dos entrevistados diz não conhecê-los, diz não ter elementos sobre eles para responder à questão. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa aparece com 24% de entrevistados que dizem que votariam nele “com certeza”. E 32% que afirmam que não votariam “de jeito nenhum”. Mas 44% disseram não conhecê-lo o suficiente para responder. João Dória, segundo a pesquisa, receberia “com certeza” o voto de 18%, enquanto 38% não votariam nele “de jeito nenhum”. Mas é desconhecido de 48%. E Bolsonaro ganharia o voto certo de 17%, enquanto 42% não votariam nele “de jeito nenhum”. Mas 40% o desconhecem.

Apenas para registro, o índice dos que disseram desconhecer Lula foi de apenas 2%. O de Marina, 17%. Alckmin, 24%. Serra, 18%. Aécio, também 18%. Mesmo índice também de Ciro Gomes.

Ou seja: os candidatos a Trump ainda têm um caminho a percorrer para se tornarem conhecidos. Registre-se que nos casos de Joaquim Barbosa e João Dória, não há rodada anterior para comparar. No caso de Bolsonaro, aumentaram tanto seus índices de rejeição quanto de aprovação (na rodada anterior, 11% votariam “com certeza” e 34% “de jeito nenhum) e caiu seu grau de desconhecimento (era de 55%).

Há hoje um ambiente que leva a população a desconfiar dos políticos tradicionais de um modo geral. Daquela relação de potenciais candidatos mais conhecidos, Lula, Serra, Alckmin e Aécio habitam a lista do ministro do Supremo Edson Fachin e as delações premiadas da turma da Odebrecht e companhia limitada. Na Itália, depois da Operação Mãos Limpas, isso gerou a ascensão de um Trump: o empresário do setor de comunicações Silvio Berlusconi. Por aqui, Dilma avaliou ao jornal americano, talvez sigamos no mesmo caminho.

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