Temer e a morte de Marielle

Michel Temer demorou preciosas horas para, finalmente, se pronunciar sobre o assassinato a sangue frio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes – e só o fez quando o país, em uma dessas raras comoções nacionais, foi dominado pela tragédia da execução, com manifestações em toda parte e questionamentos duros à intervenção marqueteira do presidente. Quando Temer, finalmente, falou, fez um discurso pífio, inseguro, sem emoção – colocado nas redes sociais do Planalto e do presidente e difundido pela Presidência na mídia.

Temer acertou ao chamar a execução de Marielle de “verdadeiro atentado ao estado de direito e à democracia”. Nem poderia dizer outra coisa. Mas o pequeno vídeo de menos de dois minutos não está à altura da gravidade do que aconteceu, e nem dos fatos que se sucederão – e podem esperar porque uma parte importante do país realmente foi sacudida. Temer poderá falar outras vezes, mas nada apagará esta primeira reação bisonha.

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“O assassinato da vereadora Marielle, e do seu motorista, né, o Anderson Gomes, é…(breve pausa) inaceitável. Inadmissível. Como todos os demais assassinatos que ocorreram no Rio de Janeiro”, começou ele, no vídeo inicialmente postado no Twitter. “No particular, no caso especial, que nós estamos aqui discutindo, trata-se do assassinato de uma representante popular, que, ao que sei, fazia manifestações, trabalhos, com vistas a preservar a paz e a tranquilidade na cidade…(pausa interminável) do Rio de Janeiro”, continuou, com e falta de inspiração e carisma que lhe é peculiar.

Enquanto nas ruas de várias cidades brasileiras a intervenção ganhava fortes críticas, passando da fase da desconfiança para a da quase descrença, Temer aproveitou o discurso para insistir na ideia da solução mágica para a qual empurrou os militares. “Aliás, decretamos a intervenção para acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou naquela cidade por força das organizações criminosas”, disse, anunciando a ida de Raul Jungmann para o Rio. “Não destruirão o nosso futuro, nós destruiremos o banditismo antes”, sacou, numa frase treinada e, obviamente, falsa.

Esfregando as mãos e parecendo consultar um papel sobre a sua mesa, lembrou, já no final do vídeo, de se “solidarizar” com as famílias das vítimas e “com todos aqueles que foram vítimas de violência no Rio de Janeiro”.

O abatimento de Temer, no vídeo, era evidente. E ninguém duvida que, com a ficha despencando a toda velocidade, ele começava ali a entender a gravidade do que ocorrera. Mas, ainda que assumamos que, como todo ser humano, Temer tenha se emocionado com os nove tiros disparados contra Marielle, e que atingiram também Anderson, a falta de gravidade e sentimento nas palavras mostram a dificuldade de um ser fundamentalmente político, e, mais, do bastidor político, falar com a sociedade, especialmente quando confrontado com ela.

Mas, claro, essa é só minha opinião.

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