Passagem para a Rússia

Moscou. Foto Lucas Figueiredo/CBF

“Já temos a seleção para a Copa do Mundo na Rússia. Agora, Tite e equipe, com todo respeito aos nossos anfitriões e amigos russos e com humildade, por favor tragam o Caneco para casa”.
Michel Temer, após a convocação da seleção. Twitter, segunda, 14/05.

“A Copa do Mundo começou. É hora de acreditar na força da camisa verde e amarela, no talento de nossos jogadores. Somos mais de 200 milhões de corações pulsando, batendo forte por nosso país. Estamos todos torcendo por nossa seleção. Rumo ao hexa.”
Temer, de terno e gravata, entre duas bandeiras do Brasil. Após o início da Copa. Vídeo no Twitter, quinta, 14/06

“Parabéns, seleção, pela garra e determinação! Rumo ao hexa!”
Michel Temer, após a vitória do Brasil contra a Costa Rica. Twitter, sexta, 22/06.

“Valeu, seleção! (bandeirinha do Brasil). Que venha o México!”
Michel Temer, com foto, de terno, após a vitória do Brasil contra a Sérvia. Twitter, quarta, 27/06

Palácio Planalto. Temer, Padilha e Gustavo Rocha, ministro dos Direitos Humanos. Foto Alan Santos/PR

De terno e gravata, que parecem uma segunda pele, ao lado dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos) – Direitos Humanos? -, de frente para uma big TV, tigela de prata cheia de pipocas sobre a mesa, o presidente Michel Temer fez questão de ser registrado acompanhando a vitória da Seleção Brasileira contra a Sérvia na Copa do Mundo da Rússia em seu gabinete no Palácio do Planalto.

“Valeu, seleção. Que venha o México!”, publicou a assessoria do presidente no Twitter, num entusiasmo desafiador que guarda poucas semelhanças com a linguagem engessada de Temer. Quem quiser dar boas risadas, leia os intermináveis comentários que vêm a seguir, deixando bem claro que não há filtros na rede social da Presidência. Entre retuítes impublicáveis e memes muito engraçados, Temer confirmou, mais uma vez, que é mesmo o presidente mais rejeitado de toda a história.

Como tratei em texto anterior, Temer segue aproveitado o avanço da seleção brasileira para, quem sabe, tentar angariar algum respingo de simpatia e um naco de popularidade.

Desde que o torneio começou, passou a publicar mensagens de otimismo em redes sociais, como na abertura da Copa, há duas semanas, quando postou um vídeo pedindo a união dos brasileiros “em torno da camisa verde e amarela”, e, ao final, soltou um “Rumo ao hexa”.

Presidente Michel Temer e o presidente russo, Vladimir Putin. Foto Beto Barata/PR
Presidente Michel Temer e o presidente russo, Vladimir Putin. Foto Beto Barata/PR

Ainda não há plano do presidente viajar à Rússia para acompanhar os jogos finais da equipe brasileira, mas começam a circular informações, vazadas por sua assessoria – não se sabe se em tom de ameaça – dando conta de que o chefe de Estado brasileiro teria deixado aberta sua agenda no dia 15 de julho, data da final da Copa, para uma possível viagem ao exterior. Se o Brasil levar o título, como todos queremos, Temer corre o risco de ser o único brasileiro vaiado nas tribunas. O plano B seria ficar por aqui e repetir outros mandatários, convidando ao Planalto os jogadores para erguerem juntos a taça. Temer quer muito essa foto. O técnico Tite já disse, de antemão, que não vai. Já os jogadores…

Apoiar ou não a seleção brasileira ganhou status de manifestação política.

Pelo menos no início. A camisa amarela da seleção também foi alvo de polêmicas e surgiram várias versões genéricas, inclusive uma vermelha, de quem não queria ser confundido com os “patos paneleiros da Fiesp”. À medida que a Copa avança, porém, isso parece ir se diluindo. Mas imaginar Temer, que já ostenta uma faixa presidencial que não foi feita sob medida, se apossar, ainda que por segundos, de outro orgulho nacional, me parece um bom caminho para muita polêmica.

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