O estranho mundo de Bolsonaro

Imagem twittada por uma fã anônima, Sra Direita.

“Feliz Dia dos Pais, Capitão, nosso futuro presidente. Esses esquerdista (sic) vivem no desespero”, postou, no Twitter de Jair Bolsonaro, uma certa Sra. Direita, seguidora anônima, que se solidarizou com o candidato do PSL à Presidência enviando uma fotomontagem de Bolsonaro como o Capitão América.

Bolsonaro reclama da Folha, ao lado do filho, no Dia dos Pais, que publicou matéria mostrando que seu pai foi fichado pelo Dops da Ditadura por ter atuado ilegalmente como “protético” – acabou absolvido.

O candidato acabara de postar um vídeo, ao lado de um dos filhos – não sei se Flávio, Carlos, vereador no Rio de Janeiro, ou Eduardo, deputado federal, pra mim são todos iguais -, bufando contra matéria “do Globo” – era da Folha de S.Paulo -, deste domingo, 13. A reportagem mostrava que o pai de Bolsonaro, Percy Geraldo, fora fichado e monitorado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão e tortura da ditadura que o candidato militar até hoje defende. Acusado de ter atuado ilegalmente como “protético”, foi absolvido.Irritado com o que considera uma perseguição da imprensa contra ele e sua família, Bolsonaro quase se esqueceu de felicitar os pais pelo seu dia. O vídeo teve 150 mil visualizações e 20 mil pessoas – e robôs – curtiram. Ele também criticou a capa de Istoé, que o colocou como rei das fake news.

Bolsonaro posta foto “dos idos 90” fazendo flexões sem camisa e de bermuda rosa.

Em outro post, com 136 mil visualizações, um Bolsonaro bem mais jovem e magro se exibe com o dorso de fora fazendo flexões. “Idos 1990, tempo que não se ‘roubava’ flexões”, postou, com sua característica falta de humor, falando para um eleitorado que deve dar mais importância a flexões que a ideias. Outro vídeo, com quase 130 mil visualizações e 16 mil curtidas, mostra criancinhas declarando voto em Bolsonaro.

Criancinha vestida de super-herói grita “É Bolsonaro presidente!”

Uma delas bate continência. Outra, vestida com máscara de Transformers, repete o que alguém lhe sopra. “É Bolsonaro!”, berra. Outra, de pé em um carro em movimento, com uma camiseta com a cara do “capitão”, avisa que a família está fechada: “Eu sou Bolsonaro, meu pai é Bolsonaro, meu vô é Bolsonaro, minha mãe é Bolsonaro!. A família orgulhosa se derrete. “Obrigado molecada! Um abraço a vocês e seus pais! Fiquem com Deus!”, agradece o “mito”.

Em outro vídeo – sim, você já percebeu o tema predominante na campanha do capitão-deputado -, ele tenta explicar uma polêmica levantada pelo Roda Viva, do qual participou. Assaltado em 1995, Bolsonaro viu a Secretaria de Segurança Pública, na época, designar 50 policiais de diversas delegacias e departamentos especializados para buscarem a motocicleta roubada. O secretário, o truculento general Nilton Cerqueira, era velho conhecido do deputado. Preso pelo crime, Jorge Luís dos Santos, traficante da favela de Acari, foi encontrado morto em sua cela, enforcado com a própria camisa, ajustada em um nó de marinheiro. “A imprensa está indignada porque o chefe do morro (…) apareceu morto um tempo depois” ironizou Bolsonaro, no Twitter. Ele fez questão de colocar a foto do bandido enforcado, numa cela imunda. Alcançou 15 mil curtidas.

Durante o debate presidencial na Band, a maior preocupação de Bolsonaro e dos filhos era denunciar uma suposta campanha do Twitter pra derrubar suas hashtags. “Pô, Twitter, “ajuda nóis aí! Tirar nossas hashtags toda hora do ar não é legal! Deixa a gente liderar democraticamente!”, pedia. O vigilante filho Carlos, fazia coro: “Derrubaram mais uma hashtag. Primeiro #EstoucomBolsonaro, depois #BolsonaroNaBand e agora? Que tal #CapitãoNaBand”? Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo protestando na tribuna da Câmara.”Todo mundo sabe que o patrulhamento do politicamente correto está em cima da direita”, afirmou, citando Mark Zuckerberg, que entrou para a lista dos esquerdistas da ordem global depois que mandou tirar do ar sites do MBL que difundiam fake news.

O Twitter de Bolsonaro também serve para atacar adversários.

Página inicial do Twitter do Bolsonaro

Em um post, ataca Marina Silva, na figura de seu vice, destilando preconceito contra as causas de sempre. “Você sabia que o vice de Marina Silva é a favor do aborto, legalização da maconha e criminalização da “homofobia”?, pergunta Bolsonaro, mostrando uma foto da candidata ao lado de Eduardo Jorge, do PV. Ganhou 21 mil curtidas. Muitas cenas são gravadas em seu gabinete parlamentar, tendo ao fundo os retratos emoldurados dos cinco generais-presidente da ditadura. “Eu Presidente, caso chegue em minhas mãos proposta para descriminalização do aborto, garanto que terá meu veto”. 137 mil visualizações e 15 mil curtidas.

Em outro tweet, Bolsonaro tenta mostrar que o MST quer acabar com os valores familiares. Exibe trecho de um vídeo, onde crianças com bonés do MST cantam o hino do movimento. O refrão diz: “Vem, lutemos punho erguido / Nossa Força nos leva a edificar / Nossa Pátria livre e forte / Construída pelo poder popular”. As imagens podem ter sido extraídas do 1º Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha, promovido pelo MST, em Brasília, em julho. São filhos de trabalhadores sem-terra. Mas Bolsonaro faz crer que trata-se de uma lavagem cerebral. Mensagens em letras garrafais como “Doutrinam nossas crianças”, “Pela causa roubam o futuro dos nossos filhos”, “Pregam o comunismo”, “A bandeira deles sempre foi vermelha”, “Detestam a propriedade privada”, “Odeiam as religiões”. aparecem ao longo do vídeo. Teve 67 mil visualizações e 6 mil curtidas.

Então Bolsonaro só ataca e estigmatiza, não discute propostas? Melhor seria que não discutisse. No dia 08/08, prometeu, se eleito, retirar a Embaixada da Palestina do Brasil. “A Palestina não sendo país, não teria embaixada aqui. Não pode fazer puxadinho, senão daqui a pouco vai ter uma representação das Farc aqui também”, escreveu Bolsonaro, misturando alhos com bugalhos. Tecnicamente, a condição de “Embaixada” já era reconhecida aqui desde 1998, mas a construção só foi erguida 18 anos depois, no início de 2016. 5,3 mil curtidas.

Se o Twitter de Bolsonaro for um compêndio de seu programa de governo, Deus nos acuda.

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