Entre zumbis e fardas

Governador e prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella. Foto Orlando Brito

O vampiro passou, a Tuiuti ficou em vice (nada mais apropriado para Temer), mas o Rio, da beleza, vive seu momento de caos pós-Carnaval, resultado da absoluta inépcia e do desinteresse de seu par de governantes, que se fossem enredo encarnariam, no melhor estilo walkind dead, uma dupla de zumbis desfilando erraticamente por uma rua sem saída. O Rio, que vive uma deterioração como há muito não se via do poder público e da legitimidade de seus governantes, com falta de verbas e comando na mesma proporção, amanheceu sob a intervenção federal que se tentava evitar, dos dois lados do balcão, por ser desmoralizante politicamente para o MDB. As Forças Armadas, que já viviam, em incursões ocasionais, nos morros da cidade, assumem assim a responsabilidade do comando das Polícias Civil e Militar no estado do Rio. Isso, não é demais lembrar, há oito meses de eleições que vão trocar o comando dos Palácios do Planalto e Guanabara – e, infelizmente, não do Palácio da Cidade.

A intervenção ocorre após diversos casos recentes de violência na cidade – infelizmente, nada muito diferente ao que o carioca se habituou após o derretimento das UPPs. E depois também que o morro andou falando de política. Durante o Carnaval, uma faixa foi erguida na entrada da Rocinha, maior favela do Rio: “STF: Se prender Lula, o morro vai descer”. Há relatos de que pelo menos duas outras comunidades cariocas também penduraram faixas prometendo sair em defesa do ex-presidente. O que uma coisa tem a ver com a outra, não sei, mas como observador político e homem de comunicação, aprendi que mesmo coincidências devem ser relatadas.

Haverá muito tanque pelas ruas, muito verde-oliva misturado a fardas, e muita esperança, porque o carioca vive dela para aguentar o tranco. É a repetição de um filme, todos sabem, mudando só os personagens, e alguma coisa do enredo. O general Walter Souza Braga Neto, do Comando Militar do Leste, será o xerife da vez, escolhido pelo bom papel que desempenhou como responsável pela coordenação da segurança durante a Olimpíada do Rio, em 2016. Há inegável talento técnico nos quartéis quando não se assanham a fazer ou falar de política. A ideia do governo é que a ação dure até dezembro deste ano, portanto urutus ainda estarão rondando as favelas quando o povo descer ruas e morros para votar.

Não era nem preciso dizer, mas Pezão e seu MDB, que já vinham chafurdando na impopularidade, tornam-se cada vez mais personagens secundários no pleito que se avizinha. Não há uma única ação do governo estadual – segurança, educação, saúde, social, esporte, cultura, pode escolher a área – de que se possa orgulhar. Nem o marqueteiro mais criativo – ou bem pago – do planeta conseguiria transformar o mandato Pezão em um governo vendável. Sobra espaço para os inimigos políticos. Mal a intervenção foi anunciada, Rodrigo Maia, presidente da Câmara e suposto presidenciável, filho do ex-prefeito que quer o lugar de Pezão, chamou os microfones e holofotes para, abatido, reconhecer que não havia outro jeito. Aproveitou para jogar o último saco de cimento sobre a reforma da Previdência, que, com a votação do decreto da intervenção, ganha caminho rumo ao fundo do mar.

Enquanto isso, em seu Tour 2018, o prefeito Crivella faz na Europa o mesmo que faz no Rio: absolutamente nada. Não é só ausente e inepto. Demonstra um absoluto desprazer e enfado em administrar a cidade do Rio de Janeiro. O seu hiperativo antecessor, Eduardo Paes, costumava dizer que era “o homem mais feliz do mundo” por administrar o Rio e chegou a dizer que adoraria ser o “prefeito vitalício” da cidade. Crivella mostra, desde o primeiro dia de mandato, que, uma vez eleito, não sabe o que faz na cadeira que ganhou nas urnas. Enquanto temporais causaram um transtorno enorme aos cariocas, paralisando transportes públicos e vias expressas e matando pelo menos quatro pessoas entre a noite de quarta, 14, e a madruga de quinta, 15, Crivella tuitava alegremente – sem deixar bem claro onde estava – jurando estar sofrendo e orando pelos irmãos cariocas. O que se sabe é que Crivella virou piada na sede da Agência Espacial Europeia (ESA), que foi visitar sabe-se lá porquê. Podia ter aproveitado para ser o primeiro bispo da IURD em órbita..

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